I - 1960’s
O Alentejo é uma imensidão de gente.
Do litoral ao interior,
em cada casa, em cada aldeia,
há vida que canta alegre e arduamente.
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A grande metrópole inveja a simplicidade.
Os feriados de cada terra
dançam até de madrugada,
no baile e na festa celebra-se a felicidade.
II - 1980’s
O Alentejo ainda é uma imensidão de gente.
Esta gente faz planos
em prol da terra mãe,
a mesma que um dia brotou a sua semente.
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A grande metrópole ainda inveja a simplicidade.
Cavaleiro citadino de espada na mão
deseja trespassar a alma do aldeão,
falha o coração, regressa à cidade.
III - 1990’s
O Alentejo começa a perder gente.
A tortura dos mais velhos
é ver os novos abalarem lentamente;
ninguém nota, pouco se sabe, tudo se sente.
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A grande metrópole não inveja a simplicidade.
Tem um número invejável de soldados,
cansados, desmoralizados;
erra ao pensar que o número faz a totalidade.
IV - 2020’s
O ciclo desenha o progresso;
desconhece-se o ponto inicial,
o fim é temporário,
certo é o nosso regresso.
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Ricardo Jorge Claudino nasceu em Faro em 1985. Actualmente reside em Lisboa. Mas é Alentejo que respira, por inigualável paz, e pelos seus antepassados que são do concelho de Reguengos de Monsaraz. Licenciado em Engenharia Informática e mestre em Informação e Sistemas Empresariais pelo Instituto Superior Técnico de Lisboa. Exerce desde 2001 a profissão de programador informático.Também exerce desde que é gente o pensamento de poeta.