10 Março 2018      13:01

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A vida

A vida é um pedaço de terreno abandonado que não sabe bem a quem pertence e não tem marcos. A vida transforma-se num lamaçal quando chove e em terreno ardente nos dias de mais calor. Não contemplemos tanto os efeitos nefastos dos dias em que nos corre menos bem, mas optemos por torná-la vívida e alegre, naqueles dias em que o terreno nem é um lamaçal nem se encontra em chamas.

A vida é como esse mesmo terreno onde, deitas as sementes, os terrenos se transformam em algo fértil e puro. Que não lhes chegue a devassa erosão dos solos e que nunca deixem de gerar e construir vida, a partir da própria vida. Tudo contribui para a harmonia e equilíbrio no campo plantado que, nesta analogia, seria a vida.

Tal como tudo, há dias em que nós, seres humanos, andamos mais chateados com ela, com a vida. As coisas não correm bem, os terrenos são movediços e parece que não avançamos além de pouco mais de dois metros. É uma luta constante contra um vento forte e não avançamos. Cansam-se-nos os olhos, com as areias que vêm de frente e que nos ofuscam o olhar e o fazem desviar para outros sítios.

A vida é uma farsa, andamos enganados toda ela e não nos apercebemos. Isto é um pensamento profundo que carece de confirmação. Talvez um dia se saiba. Como num filme, tudo tem um princípio, um meio e um fim e no meio de tudo, um enredo. Há uns mais complicados que outros. Há filmes que são suaves e sem grandes pronúncios e suspense. Há filmes que são românticos e sabem a doce de amêndoa e fazem chorar a meio e rir no final.

Tão cristalina e transparente como a água, a vida sacia a sede e a sede sacia a vida. Por vezes turva, quando demasiado pó se transforma em lama. Tão cristalina quando, olhada a um espelho, se transforma em nós próprios, na nossa insaciabilidade em viver.

Viver é sorrir. Viver é chorar. Viver é transportar-se de um lugar para o outro e construir um palácio a partir de um destroço. Viver é andar de um lado para o outro, de mala na mão, de carro em carro, de avião em avião, e noutros transportes semelhantes.

Viver é ir escrevendo um livro, cujas páginas estão em branco. É lembrar-se de que, a cada passo, há sempre palavras que surgem sem serem esperadas e outras que tornam a página digna de se tornar central e início de capítulo. Tão bom seria viver num terreno ou num livro em que é poesia e que rimando ou não, marca o leitor e cresce, página após página. Viver é semear, plantar, colher e usufruir.

Entre filósofos, escritores, músicos e outros artistas, a palavra vida surge de tantas formas e com tantos significados. Entre técnicos, matemáticos, homens e mulheres de tanta profissão, conhecem-se os segredos da vida e desvendam-se as equações que fazem o quadro genético dessa mesma vida. Que se entendam os segredos, pela parte dura da ciência, que se entendam os recantos dos sonhos da vida, criados pelos segredos da via.

A vida é um terreno fértil, ora inóspito, ora cultivado. Cansamo-nos dela tantas vezes, nunca é demais repetir, mas devemos centrar-nos naquilo que mais interessa. Devemos centrar-nos na descoberta dos segredos. Na construção de casas e limpeza da alma naquilo que mais nos interessa. Pensar nisto, na vida e nos seus múltiplos aspetos, faz-nos bem, deixa-nos respirar e viver as vidas em lugares paralelos. Pensar. Sonhar. Verbos de ação que sevem ser usados mais vezes nos discursos.

A vida é um livro. O meu vai a meio e não lhe conheço as páginas a partir de amanhã. Não as quero conhecer, nem aos capítulos, nem aos erros, às gralhas. Não quero saber os finais felizes ou os capítulos que correrão melhor no enredo que é a vida. A cada página do livro redigido, o importante é saber que neste terreno por cultivar, são tão importantes as gotas de água quanto a qualidade das sementes e o carinho que lhe damos, enquanto crescem. A vida é.         

 

Imagem de osegredo.com.br