27 Março 2018      06:52

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Uma nova oportunidade para a Casa de Fresco dos Sanches de Baena?

Interior da Casa de Fresco dos Sanches de Baena

ORÇAMENTO PARTICIPATIVO: Uma nova oportunidade para a Casa de Fresco dos Sanches de Baena?

A Casa de Fresco dos Sanches de Baena constitui um espaço muito peculiar de Vila Viçosa. Trata-se de um ninfeu subterrâneo, anexo a uma cisterna e sob uma antiga nora, cuja decoração erudita nos remete para o período áureo da sede da Casa Ducal brigantina, no século XVI. Localizada junto ao Paço Ducal e contígua ao Convento das Chagas de Cristo, a Casa de Fresco é um testemunho histórico vivo de um passado brilhante.

Profusamente decorado com um sofisticado programa de pinturas murais, estuques e embrechados, este refúgio para os quentes dias do verão alentejano contêm em si a representação das novas tendências renascentistas, tão presentes em Vila Viçosa, sob o patrocínio dos Duques de Bragança. Estes elementos decorativos, visíveis no Paço, nas Igrejas e nos Conventos são, sem dúvida, uma “imagem de marca” da localidade calipolense.

Na imagem: pormenor com o escudo armoriado dos Sanches de Baena

Contudo, este bem patrimonial único encontra-se em risco, devido ao seu avançado estado de degradação. A passagem dos séculos deixou sinais muitos visíveis em toda a estrutura.

A Santa Casa da Misericórdia de Vila Viçosa, entidade tutelar do edifício, tem promovido ações concretas, no sentido de proceder à recuperação e conservação deste espaço, no âmbito da estratégia cultural da instituição. Apesar das dificuldades em todo o processo, a vontade manifestada pela Mesa Administrativa vai no sentido de encontrar uma solução para recuperar a Casa de Fresco e permitir a sua fruição pública. A primeira grande meta alcançada foi a classificação deste bem enquanto Imóvel de Interesse Municipal, no ano de 2014. Desde então para cá, têm sido inúmeros os procedimentos realizados.

Também a Universidade de Évora, através do Laboratório HÉRCULES e de uma equipa pluridisciplinar, tem direcionado um “olhar” científico sobre este tema, promovendo estudos aprofundados sobre a programação artística, assim como a identificação das principais patologias que afetam as pinturas murais, os estuques e os embrechados.

Em 2015, foi constituída uma equipa de trabalho, integrada por conservadores-restauradores, museólogos, historiadores de arte e arquitetos, para a definição de um plano de salvaguarda deste conjunto patrimonial.

Na imagem: Pormenor do embrechado do friso da cimalha

Os diagnósticos, os estudos técnicos sobre a pintura mural e os registos fotogramétricos estão concluídos. A monitorização dos valores de humidade e temperatura tem também constituído um desígnio basilar no decurso dos trabalhos desenvolvidos. As medidas preventivas que têm vindo a ser aplicadas procuram proteger a Casa de Fresco, criando condições para uma futura e eficaz ação de restauro. Muito trabalho está feito!

A recente pré-candidatura para a recuperação deste espaço ao Orçamento Participativo de 2018 constitui mais uma tentativa para salvar o monumento. Esperamos que tal seja possível, através de um cronograma de ações que tem vindo a ser preparado pelas partes envolvidas neste processo. Passo a passo, o caminho está traçado.

Será necessário o apoio de todos!

Abrir este bem patrimonial ao público será o desafio seguinte, no caso da intervenção de restauro da Casa de Fresco vir a ser alcançada, em parceria com as instituições locais, promovendo desta forma a componente turística de Vila Viçosa e diversificando a oferta cultural existente.

É urgente que a sociedade civil encare o Património como um eixo vital para o desenvolvimento, através de ações de promoção, divulgação, estudo e valorização destes legados. Creio que deve ser esse o caminho a seguir. O projeto de recuperação da Casa de Fresco dos Sanches de Baena é um, entre inúmeros casos!