5 Abril 2020      11:45

Está aqui

T(E)U

Estou sentada à beira do (nosso) rio e observo o carinho suave entre o laranja do céu e a água. Porque está tudo tão cinzento, e tão frio? Foco-me nas árvores, e as folhas dançam consoante o vento. Não aguento o buraco que tenho no meu peito (dói tanto), e acendo um cigarro enquanto aprecio soft grunge e caminho pela calçada; a tua calçada. A minha mente é dissolvida nas memórias construídas ao nosso redor e quero gritar-te que o passado não tem de ser parte de nós. Nós somos algo novo e prosperamos no presente.

Beijo o meu destino, encosto as nossas faces, e pergunto-te «Como é suposto alcançar o paraíso sem perder uma parte de mim?». A minha mente transforma-se numa doença mortal durante a noite e a única cura é um café forte. Tenho medo do escuro e entreguei-me à luz porque os monstros desaparecem, e tudo fica mais leve. Tudo fica mais assemelhado ao teu ser; porque é aí que tu apareces.

Acreditei que tinha descoberto o caminho para fugir daqui. Acreditei que tinha conseguido fugir de mim. Falhei, amor. Eu falhei. Procuro, desesperadamente, qualquer tipo de positividade, mas a minha mente coagulou, e eu já não me sinto. Amor, eu não me sinto; ajuda-me. Não sinto os meus ossos; estão quebrados. Não sinto o meu peito; sinto o meu coração a sangrar. Amor, eu não me sinto, mas sinto-te; volta. Suicido-me sempre quando me submeto a um curativo, e sangro mais um pouco quando tento juntar tudo: o meu peito destroçado, os meus ossos. Nada existe. Não existem. São espelhos.

Sei que tentas evitar, mas, algumas vezes, tudo o que eu posso fazer é deitar-me sobre o meu colchão com os lençóis em contacto com a minha pele e ficar com esperança de adormecer antes de me desmoronar. Dou por mim às três da manhã a saltar a janela do meu quarto e sento-me no passeio da estrada, está tão frio dentro de mim, não consigo sentir os graus negativos que dominam as ruas a esta hora, e consigo ouvir o meu cigarro a queimar, afinal de contas, os cigarros são os alimentos para almas quebradas. Eu sou os meus pensamentos e o que como. Eu sou para onde estou a ir e onde eu gostava de ir. Nada.

Pensei que tinha encontrado o caminho para fugir de mim. Falhada. Fiquei com medo. Olhai. Olhai para mim. Tenho medo.

Que sina, fiquei com medo. Ridícula. Sufocada e aterrorizada estou. Que hipocrisia. Em menos de duas décadas deixei de ter coragem. E como é viver sem coragem? Não se vive, já nem sei se se sobrevive. Amor, a fome tem fome, lembraste? Mas o que é isso? Não me encontro. Tu és um lar, e só preciso dos teus braços à volta do meu corpo cheio de dor, mas pequenino.

 

Natural de Reguengos de Monsaraz, Beatriz Velez tem 17 anos e estuda Ciência Política no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas. Escritora desde os 13 anos, amante dos animais e da Natureza.