25 Dezembro 2022      12:06

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A taipa no Alentejo, uma técnica construtiva tradicional

A jornada pela cultura alentejana vai extensa e, no horizonte, ainda há tanto para vos revelar. Do património imaterial, seguimos até ao património material. Das tradições e saberes até à habitação tradicional da região.

Sensivelmente até aos anos 50, a técnica construtiva mais utilizada no Alentejo era a taipa. A história da construção em terra, segundo alguns autores, foi introduzida na Península Ibérica pelos Fenícios, Cartagineses, Romanos e Muçulmanos, (CORREIA & MERTEN, 2003, p. 1). Todavia e muito provavelmente, foram os muçulmanos que mais difundiram esta técnica, entre os séculos VIII e XIII.

Apesar do recurso a esta técnica ser residual nas últimas décadas, o Alentejo possui um amplo património construído em taipa. A execução deste tipo de construção civil “consiste em compactar terra húmida em camadas no interior de uma cofragem, com o objetivo de construir paredes. Esta cofragem é tipicamente chamada de taipal e constitui um elemento fundamental para a execução deste tipo de paredes, que formam estruturas consideradas monolíticas.”  Estes taipais são formados por elementos de madeira. A sua simplicidade, não só facilita a sua montagem e desmontagem, como a reutilização por um número reduzido de trabalhadores. Em geral, as construções tradicionais de taipa apresentam uma planta com forma retangular e os blocos ostentam dimensões bastante variáveis sob ponto de vista do comprimento e altura.

A taipa alentejana apresenta variantes na tipologia de construção da habitação rural, dependendo do tipo de terra utilizada, da tradição de construção da região ou do taipeiro, (CORREIA & MERTEN, 2003, p. 4). Deste modo, segundo estes autores, em Outeiro (concelho de Reguengos de Monsaraz) ou em Vale dos Mortos (concelho de Serpa), a taipa é de tipologia simples e forte, sendo que as juntas são difíceis de distinguir. Já em Montoito e Aldeias de Montoito (concelho de Redondo), a terra apresenta grãos mais finos, onde a presença de pequenos pedaços arredondados de quartzo, dificulta a consistência da taipa. Segundo os mesmos autores, neste território, “a tipologia da taipa apresenta-se com duas camadas por taipal e quase sempre com uma fiada de tijolo de burro, envolvida por argamassa de cal, a consolidarem cada camada de taipa. Quando há menos recursos económicos, utiliza-se pedra de xisto estreita entre cada camada de taipa”. Por sua vez, em Safara ou Sobral da Adiça (concelho e Moura), existe uma grande variedade de solos. A terra apresenta grão mais fino e com alguns elementos orgânicos na sua composição, tal como a bolota e pequenos ramos. Neste caso, a taipa tem boa compactação. Se o solo se apresenta mais xistoso, aparece algum quartzo. Para tal, e de forma a evitar a desagregação da taipa, utilizam-se duas camadas estreitas de taipa por taipal. Reforçando-se cada camada com uma fiada de xisto. Por outro lado, em Alcácer do Sal, utilizava-se a taipa com terra negra (presença de húmus). Devido à retração do solo, utilizavam-se duas camadas de taipa, por taipal. Pelo facto dos recursos naturas serem muito pobres, entre cada fiada de taipa, utilizava-se o tijolo de burro e a argamassa de cal.

Infelizmente esta técnica tem vindo a cair em desuso, “correndo-se o risco de se perder a sabedoria essencial para a seleção do solo, controlo do seu teor de humidade e execução do trabalho propriamente dito: essencialmente a colocação e compressão da terra no espaço entre taipais”. As construções com paredes em taipa são bastante sustentáveis e apresentam uma elevada inércia térmica o que, dadas as características climáticas do Alentejo, beneficia o seu comportamento térmico.

A taipa é uma marca do Alentejo. Urge a sua salvaguarda.

 

CORREIA, Mariana; MERTEN, Jacob (2003): “A taipa Alentejana: sistemas tradicionais de proteção”, II SIACOT - II Seminario Iberoamericano de Arquitectura y Construcción con Tierra At: Escuela Tecnica Superior de Arquitectura de Madrid, España.

Acedido em: file:///C:/Users/josefigueira/Downloads/A_taipa_alentejana_sistemas_tradicionais.pdf

 

 SILVA, Rui et al. (2018): “Avaliação simplificada da vulnerabilidade sísmica de construções de taipa do Alentejo”, rpee, Série III, Nº8.

Acedido em: https://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/67851/1/rpee_sIII_n08_pg59_70.pdf

 

 Idem