16 Dezembro 2019      18:06

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Sons da Costa Alentejana vão ser gravados antes de se perderem com as alterações climáticas

A Europa é feita de muitas e pequenas coisas, mas costuma falar-se pouco do seu rico património sonoro. Este representa, no entanto, uma parcela extremamente importante da identidade desta região do mundo, tendo servido de inspiração, ao longo dos séculos, a inúmeros criadores, com destaque para músicos e artistas plásticos. Quem não conhece As Quatro Estações, de Vivaldi? Poderiam multiplicar-se os exemplos nas mais variadas áreas da arte, da literatura, do pensamento ou da ciência.

Registar, estudar e potenciar a herança sonora europeia é o objectivo do projecto Sonotomia, recentemente aprovado pela União Europeia, no âmbito do programa Europa Criativa. A iniciativa, a única liderada por Portugal em todo este exigente programa comunitário, é coordenada pela associação Pedra Angular e pelo Festival Terras sem Sombra, tendo como parceiros a Fundación Santa María de Albarracín, do Governo de Aragão, e o Spatial Sound Institute, de Budapeste.

Na abordagem do universo sonoro do velho continente, a instituição espanhola ocupar-se-á das paisagens rurais e a congénere húngara dos territórios urbanos. Portugal, que chefia o projecto, bastante inovador a vários títulos, tem a seu cargo os ambientes costeiros e fluviais do Sul, com realce para o Alentejo.

Os trabalhos iniciaram-se na orla marítima de Odemira, concelho onde também decorreu, entre 12 e 14 deste mês, a primeira reunião das estruturas de Sonotomia, com a presença de peritos como o geógrafo Antonio Jiménez, o engenheiro de som Peter Halasz, o historiador de arte José António Falcão, a designer Alifiyam Imani ou a fotógrafa da natureza Monica Busquets, entre outros.

Partindo da herdade do Chocalinho, junto à aldeia de Bemposta, os participantes nesta fase inicial do projecto exploraram diferentes pontos da geografia da costa alentejana, dialogaram com representantes do município de Odemira e das comunidades locais e traçaram planos para os dois próximos anos de intensa actividade. Definir o perfil sonoro e captar as particularidades de uma orla marítima em rápida transformação constitui uma das prioridades desta iniciativa europeia, que está associada ao esforço do Festival Terras sem Sombra para internacionalizar o Alentejo como destino de arte e natureza.

 

Fotografia: O Cabo Sardão é dos pontos escolhidos pelos peritos da União Europeia para a monitorização da paisagem sonora da costa alentejana