Por Ricardo Jorge Claudino
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A sombra do vento
cai sobre o chaparro;
fico com a sensação
de que o calor, exausto,
se deu por vencido.
Apenas aqui me sento
porque um alentejano
só se senta para pensar.
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O vento sopra
e a sombra abraça-me.
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Penso em negar-lhe o momento;
atroz este meu pensamento
que espera sempre mais
de quem dá menos.
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Talvez tenha sido uma má escolha;
— mea-culpa,
há mais chaparros nesta terra e
as escolhas passam a ser histórias
(e as histórias, um dia, serão vida).
Mas aqui, e agora:
só me apetece pensar.
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Suavemente, assim como um sopro
que acalenta os ramos deste chaparro,
o erro faz-se soar;
desde a minha própria sombra
escuto a voz que me quer guiar.
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É o vento,
é a terra,
é a natureza,
é o amarelo,
é a luz e a penumbra
e é, também, este chaparro.
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Graças à desertificação deste lugar
os meus olhos desenham uma planície sem obstáculos.
Não há prédios, casas, ruas ou estradas;
não há pessoas, carros, caos ou nada.
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Na verdade,
sei que anda por aí um pastor;
apesar de não o vislumbrar,
o som cintilante dos chocalhos
dança ao ritmo do cajado que
solenemente bate no chão.
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Como é aconchegante estar rodeado de nada!
Sem paredes, sem ouvidos,
— só estar aqui me basta.
Imagem de capa de Daniel Janeiro
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Ricardo Jorge Claudino nasceu em Faro em 1985. Actualmente reside em Lisboa. Mas é Alentejo que respira, por inigualável paz, e pelos seus antepassados que são do concelho de Reguengos de Monsaraz. Licenciado em Engenharia Informática e mestre em Informação e Sistemas Empresariais pelo Instituto Superior Técnico de Lisboa. Exerce desde 2001 a profissão de programador informático.Também exerce desde que é gente o pensamento de poeta.