24 Junho 2022      08:58

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SNS “é vítima do seu sucesso”, diz investigador de Évora

Investigadores nacionais que assinam o Relatório da Primavera 2022, publicado na passada terça-feira pelo Observatório Português dos Sistemas de Saúde, afirma que a rede pública de saúde garantiu maior sobrevivência à nascença e no fim de vida dos portugueses, e agora precisa de “uma nova abordagem”.

Em declarações ao jornal Expresso, Manuel Lopes, um dos coordenadores do Observatório e Professor na Universidade de Évora, explica que “temos um serviço público de saúde que cumpriu, e tem cumprido, muito bem a sua função, respondendo a uma população que tinha determinadas características e preparando a sua capacidade de resposta para a doença aguda. Fez maravilhas, sobretudo na mortalidade infantil e na longevidade e agora o Serviço Nacional de Saúde (SNS) é vítima do seu sucesso”.

O investigador lembra ainda que “passámos a viver muitos anos e a ter uma população com muitas doenças crónicas, associadas a múltiplas dependências funcionais”, ou seja, “que exigem uma nova abordagem”. O que agora é preciso “não se resolve com as intervenções que o SNS tem tido”.

O porta-voz do grupo de autores do Relatório da Primavera deste ano adianta também que “a solução passa por um conjunto de desafios que estão identificados: recursos humanos, acesso aos cuidados de saúde – que extravasam as fronteiras da saúde, como seja garantir transporte a quem não o tem para de deslocar às unidades de saúde –, e a tecnologia, que tem de ser posta ao serviço dos cuidados para que não nos tornemos escravos da tecnocracia”.

Além disso, esta “revolução estrutural” necessária obriga a “um pacto social para a Saúde”, que “não é um trabalho para uma legislatura”. Segundo o responsável, “a sociedade tem de ser chamada a intervir, a tomar uma decisão, no caso a dizer se quer manter o SNS como aquele que temos, de natureza solidária”, e, a querer, “tem de ficar do aldo da solução, desde logo, não aceitando o discurso falacioso de que a Saúde é um custo e que Portugal não aguenta esse custo”.

Manuel Lopes explica ainda: “se investimos na prevenção e na promoção da saúde, a saúde é um investimento com uma rentabilidade como nenhum outro. Em boa verdade, o nosso investimento nesses cuidados é dos mais baixos em todo o espaço europeu”.

O investigador alerta que a solução não passa por continuar a gastar mais nas Urgências, em cuidados agudos. Contudo, “não se pode resolver a questão no sentido de culpar a vítima, o utente que vai à Urgência sem precisar porque não tem alternativa onde acorrer”.

 

Fotografia de observador.pt