10 Novembro 2017      10:22

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A REALPOLITIK CHEGOU ÀS AUTARQUIAS OU AFINAL A IDEOLOGIA É UMA BATATA?

Apesar de se usar quando falamos de relações internacionais, o termo “realpolitik” tem perfeita utilização hoje quando olhamos para a realidade saída das eleições autárquicas do passado dia 1 de Outubro e para os negócios que têm sido feitos entre partidos de Esquerda e de Direita em Câmaras e Juntas de Freguesia.

Mas afinal o que é isto da Realpolitik?

O conceito de “realpolitik” é antigo. Podemos encontra-lo já em Maquiavel e ao longo da história teve adeptos como Bismark ou Kissinger.

Mas seja quando usamos o termo em sentido próprio ou quando o transpomos para a medida caseira da política local, falarmos em realpolitik é sempre falarmos em deixar para trás os princípios, se tal for conveniente, para atingir certos fins. Ou seja, deixamos para trás a ideologia porque o que queremos são os resultados.

De facto, se olharmos para o resultado das eleições autárquicas em muitos concelhos, e em Évora também, é fácil encontrar casos flagrantes que ilustrarão bem o que é a “Realpolitk: Alianças espúrias entre a Esquerda e a Direita, que deitam para trás das costas os princípios que cada qual defende com o objectivo evidente, que pretendem iludir, de garantir o exercício do poder.

A narrativa justificadora é sempre a do bem das populações, escamoteando-se que este não é um terreno acéptico e que o conceito de “bem das populações” é, também ele, um conceito que tem ínsita uma marca ideológica.

Ouve-se igualmente justificar as alianças à Direita com o argumento de que ao nível autárquico não são as grandes questões políticas que estão em causa. Esconde-se ou tenta minimizar-se, que por trás destas alianças estão partidos que defendem políticas autárquicas e de serviço público diferentes e inconciliáveis as mais das vezes.

São justificações frouxas construídas para iludir os mais incautos, como se fosse possível conciliar o liberalismo com o socialismo e o comunismo ou como se fosse possível conciliar a privatização do ensino ou da saúde com a defesa da Escola Pública ou do Serviço Nacional de Saúde e consequentemente o necessário reforço do serviço público prestado pelas Administrações Públicas.

Ou, finalmente, como se fosse possível conciliar a extinção das freguesias decidida pela Direita com a sua reposição.

Quando um partido de Esquerda se alia à Direita para garantir que se mantém numa Câmara ou numa Junta de Freguesia é disto que se está a falar: é da incompatibilidade das opções políticas que estarão na base de cada uma das decisões a tomar, porque elas decorrem das ideologias que as sustentam e que são, naturalmente, incompatíveis.

Porque ao afasta-se a matriz ideológica das opções que se tomam, mesmo as mais comezinhas mas que têm impacto na vida das pessoas, é de política de interesses que passamos a falar.

Este caminho de alianças à Direita não é apenas um caminho em que a Esquerda se trai a si própria, é sobretudo um caminho em que se vai perder.

Mais, quando uma força política de Esquerda se apresenta a escrutínio popular e não anuncia que está disposta a aliar-se à Direita, ao fazê-lo está também a traçar um percurso de violação do contrato que ela própria - e cada um dos seus eleitos - celebrou com os cidadãos que nela votaram. É um percurso de violação da confiança.

Fica-nos então a pergunta: era isto que quem votou à Esquerda esperava e era isso que queria?

(Escrito com a grafia anterior ao AO 90)

Imagem de capa de poder-mundial.net