13 Junho 2020      13:47

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Rato capitão

A manhã começou com uma brisa tão suave que parecia que o tempo não iria mudar nos próximos dias e anos. Na terra longínqua de Franterra, o tempo era ameno e sempre bom.

Era uma terra que vivia principalmente do comércio marítimo e do mar. A cidade ficava virada para o mar, numa paisagem e cenário que fazem lembrar o lugar mais idílico. Era, de facto uma maravilha aos olhos.

Toda a encosta que descia da montanha até à cidade fazia lembrar um romance do passado. Franterra era, de facto, um lugar muito especial. Habitada somente por animais, esta cidade era conhecida pela harmonia em que todas as espécies viviam.

Havia nela, no entanto, animais mais trabalhadores e outros menos. Havia animais que passavam o tempo a angariar comida para os tempos difíceis que nunca se sabia se poderiam surgir. As formigas eram disso exemplo. A cigarra, por outro lado, passsa os dias a cantar sem fazer o trabalho que lhe era pedido.

Havia também animais mais espertos e outros mais lentos. No role dos segundos incluíam-se as tartarugas que povoavam um bairro na proximidade da doca. Nos animais mais espertos vamos encontrar os ratos e as ratazanas. Pocato era um rato especial. Empreendedor, começou a sua carreira profissional num barco simples e nele começou a trabalhar afincadamente, durante anos e anos. Pocato tinha começado como limpador do convés e arrumador da despensa. Adorava trabalhar com queijos. Sabia bem manusear e sabia sobretudo tomar contas deles.

O seu empreendedorismo foi sempre sendo recompensado, até ao dia em que já conseguiu ser autónomo financeiramente e comprar ele um barco seu. Embora fosse em segunda mão, o barco era qualquer coisa do outro mundo. Os acabamentos era da mais pura qualidade. As belas belas caiam e deixavam que o vento as levasse e que o levassem também aos lugares onde queria ir. O barco ia carregado de produtos da Franterra, como especiarias, produtos frescos, cereais e tantos outros. No regresso nada era desaproveitado e trazia nele queijos e outros produtos que não existiam em Franterra.

Pocato era o dono e capitão do barco e tinha reunido uma equipa de bordo fenomenal. Entre hienas, gazelas, coelhos e até cães, tudo trabalhava com a mesma vontade e ambição. Todos eles sonhavam ser ricos como Pocato.

A vida corria normal até que tudo mudou em Franterra. O clima ameno naquele ano foi substituído por dificílimas tempestades. O mãe não havia nenhum dia que não estivesse crispado. Absolutamente apanhamos de surpresa, ninguém sabia muito bem como agir ou o que fazer. O rato capitão tentava fazer sentido de tudo aquilo numa tentativa infrutífera. Ainda assim, não deixou de continuar as suas viagens e os seus negócios.

13 de fevereiro foi um dia particularmente agressivo no mar. E, perdidos e desorientados, no meio de uma tempestade que parecia não ter fim, o barco navegava à vontade do vento e da chuva e das ondas quase gigantes. Estavam todos repletos de medo. O capitão, que era rato, bem os tentava sossegar. Ninguém ouvia e estavam a tentar que o barco não fosse ao fundo. Isso parecia cada vez mais próximo e no momento em que começou a meter água, o capitão deixou de falar e o seu lado de rato falou mais alto e foi o primeiro a abandonar o barco.

Foram encontrá-lo dias depois, agarrado a um tronco, na maré vazia. O seu barco, afinal não se tinha afundado e da tripulação um par de coelhos assumiram o controlo e puseram tudo em ordem. Passaram a ser os donos do navio.

Toda a gente penso que Pocato tinha morrido no mar, até ao dia em que ele apareceu, pedinte, pelas ruas de Franterra. Passou no porto e olhou para o mar, sem sequer se aperceber que o seu barco ali estava encostado, já com velas diferentes e pintado de outra cor pelos coelhos que eram agora os seus donos.

Pocato numa mais se conseguiu erguer ou voltar ao mar. Pobre e desolado, saiu da cidade e foi viver para o campo.