Conta a lenda, inspirada em outras muito mais antigas, que no antigo reino de Zeus, lá a partir do Olimpo, e depois seguidamente no tempo dos Deuses dos Romanos, que existia uma figura particular, de índole muito interessante. Nos Gregos, filho de Vénus e de Marte, nos Romanos, filho de Mercúrio e de Vénus. Conhecido por andar sempre com uma seta, falamos de Cupido, o Deus do Amor. Era por sua causa e intervenção que os casais, quando se viam e eram atingidos por pela misteriosa seta, se apaixonavam tremendamente e viviam enamorados para sempre.
Cupido era um mestre naquilo que fazia e fazia-o muito bem. Acabaram os gregos e os romanos e a figura de Cupido perdurou no tempo. Tinha conseguido escapar do reino dos Céus, onde os Deuses se tinham escondido e caído em esquecimento. Eram ainda lembrados, porém nada como nos tempos da Antiguidade.
Sozinho pela idade média, renascença e idade moderna, Cupido chegou até à época contemporânea, passando despercebido, invisível mas infalível na sua missão. Séculos após séculos, Cupido criou casais esperados e inesperados.
Na época contemporânea, com o salto do século XXI, a transformação da tecnologia, o aparecimento das aplicações de namoro, de encontros, de relacionamentos de longo termo, acabara de se esvaziar a função de Cupido. Estava quase como no desemprego, sem direito a subsídio. Infelizmente, Cupido caiu nos braços do álcool e tornou-se um ser amargurado.
Na sua mudança radical, a sua existência passara a ter outro propósito. Cupido trocou as setas do amor por um cortador de ferro manual e começou a viajar de cidade em cidade, principalmente as da Europa onde havia pontes e onde os humanos tinham a mania de encher as pontes com cadeados a jurar amor eterno, preso por aquele cadeado, naquela ponte. Pois bem, Cupido tomou como missão cortar todos e acabar com as relações que estes protegiam.
Conta quem viu que nas cidades, as madrugadas seguintes eram de espanto, por ver os cadeados todos no chão das pontes, ruído, pelas discussões dentro das casas e separação em todos os bairros, em todos os países dos que viajaram até ali para segurar o amor num cadeado.
De longe, com uma cerveja na mão e um corta ferro na outra, Cupido ria, satisfeito e malicioso.