27 Agosto 2016      09:40

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A PROFESSORA NOVA

"PARALELO 39N"

Chegava o mês de outubro e era altura de os moços e as moças voltarem à escola e àquela azáfama dos cadernos e dos livros novos que haviam de chegar à papelaria e depois seriam transportados para a Escola que ficava lá no meio do monte. Os moços e as moças da aldeia tinham passado mais ou menos três meses de férias. Nesta altura as férias de verão eram longas e longas e quando estavam a chegar ao fim, parecia que tinham começado no dia anterior.

Este ano era ano de chegar uma professora nova. Ninguém sabia quem era. Nem os alunos, os moços e as moças, nem os pais dos alunos nem ninguém. Saberiam certamente as pessoas que trabalhavam na vila e a professora que tinha sido escolhida para dar aulas naquela aldeia que era tão longe e tão perto de tudo. A professora era jovem e tinha acabado o magistério primário havia poucos anos. Porém, tinha já experiência em lidar com os alunos. Apesar de reguilas, os moços e as moças haviam de se revelar bons estudantes com facilidade em aprender e haviam de dar boas surpresas às professoras, a esta e às seguintes.

Tanto tempo para chegar à aldeia. Tanto tempo para deixar para trás toda uma vida e caminhar na direção de um futuro novo. Vendo da perspetiva da professora, tudo era novo. Nada lhe ensinara o que era fazer tantos e tantos quilómetros para chegar a um lugar absolutamente desconhecido e lá ficar durante um ano ou mais anos. Não sabia. Ninguém sabia a não ser as pessoas do Ministério que tratavam desses papéis. Visto da perspetiva dos alunos, havia a curiosidade de saber quem era a cara nova, quem os acompanharia tantos e tantos anos além do ano que estava à sua frente e os outros que tinham ficado para trás de si.

Na sala, composta por tudo, aqueles que eram bons alunos, aqueles que era alunos não tão bons mas aplicados e ainda aqueles que nem eram bons alunos nem eram aplicados e perturbavam o raciocínio de qualquer alma. A escola era daquelas que tinha sido construída havia muitos anos, numa fase em que foram construídas muitas como aquelas em muitos sítios diferentes e que marcam um período da história e da vida das pessoas. Por fora, telha romana, pintada de branco, base em granito, janelas grandes aos quadrados pequenos dentro delas e base em granito também. Na zona da entrada, um ferro onde se hasteava a bandeira. Ao lado, granito onde se viam as cinco quinas. A base de tudo, um cinzento clarinho saliente e o resto em branco nas arcadas e nas paredes grossas.

Lá dentro, chão de madeira, bancos em madeira onde se sentavam dois alunos, tampos de mesa inclinados para a escrever e uns recipientes redondos para a tinta, numa cor que era quase como se fossem de marfim. No topo das secretárias, lugar para a caneta. Num dos cantos da sala, uma lareira para os aquecer nos dias frios de inverno. Lá dentro, à frente sentar-se-ia a professora nova que ninguém conhecia ainda e que despertava a curiosidade de toda a gente. Sentar-se-ia numa secretária virada para os alunos, os moços e as moças e teria debaixo de si um estrado, onde ficaria um nível acima de todos os outros. O seu conhecimento viria sempre de cima para baixo. Marcava-se a diferença assim, dizem os entendidos que analisam estas coisas. Atrás, na parede, um quadro em ardósia preto e, por cima um crucifixo que, nesta altura ainda estaria nesta e em todas as escolas.

A sala não era diferente de nenhuma das outras. Nem a sala de espera era diferente, onde estavam em toda a volta os lugares para pendurar os sacos e os casacos. Aquilo que marcaria o ano e seria diferente era a nova professora. Os alunos, os moços e as moças, seriam os mesmos este ano, mais crescidos certamente, alguns novos para a primeira classe e os que tinham já terminado e seguido em frente.

Assim, um dia, naquele dia, já com as primeiras chuvas de outono havia de vir um carro lá de longe e esse carro traria lá dentro a professora nova. Parou junto à porta e em breves momentos toda a aldeia se juntou ao pé do portão. A curiosidade estava satisfeita. Sabiam finalmente quem era a professora nova. 

 

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