20 Julho 2016      07:57

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PROBLEMAS SINISTROS QUE SE ESCONDEM NA CADEIA ALIMENTAR

"SEM MEIAS, NEM PEIAS"

Devido a estudos que o assinalam como cancerígeno, o Glisofato tem sido alvo recente de discussão, quer a nível nacional, quer ao nível da União Europeia.

No entanto, sobre esta questão o que tem chegado à opinião pública portuguesa focaliza-se no facto de este composto estar presente na maioria dos herbicidas usados em espaços públicos. Em Portugal, foi já anunciada uma iniciativa legislativa no sentido de limitar o uso do herbicida em áreas urbanas, designadamente em locais com "grande concentração de pessoas" como escolas ou hospitais.

Quanto a mim o cerne da questão deveria ser outro, a mensagem que não passou - mas deveria ter passado - é a seguinte o Glisofato é o ingrediente chave do herbicida Roundup, produto sobre o qual a multinacional Monsanto construiu o seu negócio de sucesso e altamente lucrativo: venda de sementes geneticamente modificadas de milho e soja e respetivo herbicida.

Resumidamente, apresenta-se um pouco da história relacionada com o Glisofato. Há 20 anos atrás, investigadores da Monsanto descobriram como imunizar geneticamente milho e soja contra um herbicida. No fundo, o que os cientistas fizeram foi modificar geneticamente o milho e a soja para que fossem resistentes a um tipo especifico de herbicida, produzido (é claro!) pela Monsanto há mais de 40 anos, o Roundup. Estas sementes geneticamente modificadas foram patenteadas pela Monsanto e passaram a ser designadas por “Roundup Ready”, ou seja os agricultores poderiam, agora, pulverizar os campos e matar as “ervas daninhas” sem danificar as suas culturas. Portanto, para a maioria dos agricultores, dos Estados Unidos da América, o sucesso e a maximização do lucro estavam assentes na solução “oferecida” pela Monsanto, semente “Roundup Ready” e herbicida Roundup. Encontrada a fórmula de sucesso rapidamente se deu a expansão destes produtos pelo mundo e, assim, se originou e desenvolveu um novo mercado de cultivo e venda de culturas transgénicas, ou seja organismos geneticamente modificados (OGM). Tudo isto seria normal se não fossem tão controversos os estudos acerca do risco ambiental e de saúde pública em torno da utilização massiva do herbicida, que atuava miraculosamente matando tudo exceto as culturas “Roundup Ready”.

E na Europa? Como foi? Na União Europeia (UE), em 1998, foi autorizado o cultivo de um organismo geneticamente modificado o milho MON810 da Monsanto, uma variedade resistente a insetos. Resistente a insetos? Não! Resistente ao herbicida Roundup, que aniquila tudo exceto as sementes patenteadas pela Monsanto. Ora, em 2013, o MON810 foi sobretudo cultivado em Espanha e em menores quantidades em Portugal, na República Checa, na Roménia e na Eslováquia, contudo, oito países da UE não permitiam o cultivo de OGMs nos seus territórios: Alemanha, Áustria, Bulgária, Luxemburgo, Polónia, Hungria, Grécia e Itália. De modo a compreender-se melhor a dimensão deste problema, refira-se que em 2013 a superfície total cultivada de MON810 na UE ascendia a cerca de 150 000 hectares, dos quais 137 000 hectares situavam-se em território espanhol.

Porém, a incerteza associada à utilização destes produtos tem determinado que a maioria das empresas se abstenham de utilizá-los para consumo humano, apesar de estar autorizado. Assim, a quase totalidade da produção do MON810 na UE é encaminhada para a elaboração e processamento de rações. Atualmente, existem 58 OGMs autorizados na UE para a alimentação e rações, incluindo milho, colza, beterraba e soja. Existem ainda outros 58 OGMs a aguardar autorização. Um outro aspeto relevante é que as empresas podem, mas não são obrigadas, a indicar nos seus rótulos que o seu produto não contém OGMs.

Todavia, como se  pretende demonstrar, há muito que o Glisofato entrou na cadeia alimentar. Não sendo, assim, de estranhar que um grupo de eurodeputados belgas, com o objetivo de mostrar como esta substância tóxica já está presente com níveis preocupantes no corpo humano, tenha desafiado colegas de vários partidos e nacionalidades a testar os níveis de Glifosato presentes na urina. Ora, esta iniciativa política surgiu em vésperas da decisão sobre a reautorização do uso do Glifosato na Europa por mais uma década e segundo o diário francês “Le Monde” das 48 análises realizadas os resultados revelaram uma taxa média de 17 vezes superior ao permitido para a água potável, com alguns dos eurodeputados a acusarem 35 vezes esse nível.

Ah!  Resta-me referir que Jean-Claude Juncker não quis participar nesta pequena experiência…

 

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