Preto.
O caminho está colorido com um preto delicado e eu estou perdida.
De repente
estou numa casa.
Nunca tinha chegado a esta casa. Sempre estivera muito distante. Há quadros pendurados que gritam agressivamente comigo. Lâmpada que ameaçam tocar na minha face. Uma corrente de ar abraça o meu pescoço. Sou facilmente invadida por maus pressentimentos.
Continuo perdida.
Tento agora caminhar. Voltar à vida. Dou dois passos. Será que consigo subir as escadas?
Devagar, consigo; certo? Já caíra de várias escadas. Mas nenhuma delas me segurava tão firmemente como estas. Eu consigo.
Quando dou por mim, estou no topo e um sorriso ocupa a minha face. Olho para baixo, percebendo a longa distância entre mim e o chão. Aterroriza-me. Quero fugir. Quero abrir os olhos. Quero gritar.
Respiro fundo.
A casa continua fria e escura. As paredes esforçam-se para falar comigo, mas é em vão.
Há alguém ao fundo do corredor. Não consigo perceber. Como é que vim parar ao corredor em questão de segundos? É um gato. Aproximo-me e este corre.
Encontro-me agora noutra divisão.
Percorro o quarto quase de olhos fechados sem perceber. Como se fosse instintivo.
Mas e se
o instinto estiver a falhar?
Caminho, caminho e caminho sem saber o destino. Há plantas que me intoxicam com o seu perfume. Corro ao mesmo tempo que as minhas lágrimas marcam o meu trajeto no chão de madeira.
Tenho medo.
Afinal de contas, estou perdida.
As minhas mãos estão tão frias quanto a noite lá fora. O meu coração berra tanto quanto a chuva que bate nas janelas que, de repente, já surgiram.
Os meus olhos, com algum custo, analisam com o intuito de encontrar algo familiar.
Não encontro.
Apesar de me sentir em perigo, paro de chorar.
Eu não pertenço aqui.
Não há luz e eu sou uma pessoa do dia.
Caí das escadas.
Estou no chão.
Sinto os arranhões já formados a queimarem-me.
Ajuda-me.
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Rita Medinas, natural de Reguengos de Monsaraz, com dezoito anos e estudante do Curso de Português na Universidade de Coimbra.