13 Março 2021      12:05

Está aqui

A preguiça

Era um domingo de manhã. E toda a gente sabe que ao domingo de manhã eu gosto de dormir. Eu dormi imenso. Eu durmo sempre imenso. Creio que dormir é das melhores coisas que podemos fazer. Ao dormir estamos no braços de Morfeu e, nesse lugar, nada nos pode acontecer.

Era domingo de manhã e não me apetecia levantar. Queria ficar na cama o dia todo. Tenho a certeza que não me vão deixar ficar na cama. Chegará um telefonema de alguém chato, chegará um bater na porta de alguém a vender alguma coisa.

Quem imaginaria que um domingo de manhã fosse um dia tão ocupado? Eu não! Especialmente porque eu, a quem todos chamam A Preguiça, sou o animal mais trabalhador de toda a selva. Ninguém mais do que eu se deixa ficar no seu trabalho horas e horas. Não porque adormeça, mas porque gosto muito daquilo que faço. Poderei, porventura, levar um pouco mais de tempo a fazer o meu trabalho mas não me digam que sou lenta!

Pensava o senhor leitor, de imediato, que sou funcionária pública! Pois muito bem se engana! Não sou nada! Nunca fui e nunca serei. Essa gente, por muito mal que digam deles, são mais rápidos do que eu em todos os feitios!

Eu, preguiça de meu nome de espécie, sou do privado. Da nossa espécie também os há. E com muito orgulho.

Quem de vós nunca falou comigo ao telefone? E levou tempos e tempos a esperar uma resposta? Dirá que no serviço público não foi assim! Claro, normalmente não conseguirá que lhe atendam o telefone. Entenda e compreenda. Já estive aí! A preguiça não vive no serviço público. Ela vive no serviço escondido, muitas vezes privado. Onde não pensará o leitor, onde o nosso senso comum nunca imagina que esteja. A preguiça está lá.

A sua história começou numa selva qualquer. Chegou a Portugal há muitos anos, vinda de um continente estranho. Habituada ao novo país, achava tudo muito mais rápido. Foi-lhe muito difícil encontrar um trabalho.

Tentou o público, mas não tinha as qualificações necessárias. Alguém tempo depois, após muito responder a tantos concursos, públicos e privados, finalmente conseguiu uma entrevista numa empresa privada, onde lhe deram hipótese de começar de novo e mudar o rumo da sua vida!

Não seria mais preguiça! O estigma acabaria quando começasse o novo trabalho. Assim esperava e todos nós que estamos a ler esta crónica.

Agora estou a ler convosco e não sei o que aconteceu. Então estávamos a falar de alguém que era uma preguiça. Sabem o que é? Eu não sei. Ela sabia. Sabia que era preguiça antes de vir até Portugal.

Hoje, sábado, todos imaginamos que a preguiça esteja de folga. Por acaso não está. Está a fazer horas extraordinárias no seu trabalho. Não é funcionária pública, mas se calhar se o fosse e se fossem ver, também estaria!

Preguiça era o seu nome, mas não aquilo que a representava. Veio de longe e tornou-se membro de um lugar onde a estranhavam, mesmo sem ser estranha. Preguiça adaptou-o seu andar ao andar dos outros. Andava devagar, mas andava.

Preguiça era funcionária privada.

Estereótipos eram muitos, mas nunca certos,

Olhai-vos ao espelho antes de verem a preguiça que chegou. Talvez seja um animal selvagem, talvez seja um animal fofinho que fica horas numa árvore.

Talvez seja eu. Não serás vós certamente que lestes este texto até ao fim!