13 Julho 2021      14:32

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As peripécias de um candidato autárquico

Apesar de não ser um novato nestas andanças, talvez seja a primeira vez em que assumo um papel de maior destaque, na corrida às autárquicas.

A experiência demonstrou-me, ao longo de diversas campanhas, que a exposição pública e o escrutínio sobre os nossos comportamentos e ações são elevadas e cada movimento é visto com toda a atenção, sobretudo num meio pequeno, como aquele em que resido. Basta um pequeno deslize para originar um boato.

À partida, estava preparado para tudo aquilo que estou a viver neste momento, sabendo que, ao assumirmos uma determinada posição e defendendo uma linha de pensamento, as inimizades, ainda que anteriormente ocultas, iriam começar a surgir à superfície. E assim foi. E é normal que assim seja. Não tinha ilusões, nem expectativas, no que concerne a este tema. Tenho encarado esta fase com toda a naturalidade e até com sentido de humor, porque há alguns episódios caricatos.

Já sabia que a vida dos candidatos e putativos candidatos passa a ser observada de uma outra forma e cada pormenor, por vezes, assume uma grande relevância e é tema de análise, numa proporção nunca antes vista.

No meu caso particular, notei mudanças claras na atitude de alguns em relação a mim. Uns evitam o cumprimento, outros desviam o olhar para não ter que dizer um simples “olá” e outros, claramente, assumiram que as conversas comigo teriam que acabar, para não haver “mal-entendidos” ou suspeitas de aproximação ou conotação com o projeto que defendo. Algumas tertúlias, encontros ou festas tiveram que ficar adiados para o período pós-eleitoral, de modo "a não ferir sensibilidades" Respeito todas estas decisões e até compreendo o porquê da sua origem. E sei que este fenómeno é transversal a todos os candidatos. Ou quase todos.

Constata-se um certo clima de medo e não necessariamente em relação ao poder instituído. Como todos andam a contar espingardas e a reunir apoios, existem aqueles que não se querem comprometer, por medo de represálias, ou simplesmente por que preferem aguardar, sem tomar partido, para ver no que isto dá.

Nestes casos, tudo é feito e pensado para não serem prejudicados, numa estratégia de puro taticismo, motivada apenas por interesses pessoais. Considero isso  compreensível e deve ser respeitado. É um mecanismo de defesa, para quem teme algum tipo de represália, agora ou no futuro. Mas que fique claro que não vou deixar de ser amigo de ninguém por causa da política. Cada um é livre de fazer as suas escolhas.

Mas não deixam de ser curiosas as reações.

Se faço jogging e passo por locais menos convencionais, logo me dizem que me “ando a mostrar”. Se vou na bicicleta, que utilizo desde 2011, comentam debaixo das laranjeiras da praça que “só me falta a bandeira para me promover” ou então, "antes não andava em duas rodas, e agora é o que se vê". Se vou a uma esplanada, estou a fazer um esforço para ser visto, na boca de alguns. Se cumprimento as pessoas que conheço, logo sou acusado de “andar sempre com o braço no ar, aos acenos”. Se presto algum esclarecimento aos transeuntes que encontro na rua, logo me apontam o dedo, dizendo que ando a fazer promessas ou campanha eleitoral. Se passo pelas freguesias, por trabalho ou por ócio, logo sou acusado de andar em show-off e de só aparecer nestes meses que antecedem as eleições.

Estes comentários, aos quais acho bastante piada, acabam por ser muitas vezes o motivo para uma animada cavaqueira, em que tudo acaba com uma pitada de humor. Para mim, este tipo de abordagens acaba por ser motivo de diversão e não levo a mal as palavras irónicas que me são dirigidas. Não deixei de ser quem era e continuo com as mesmas rotinas. Permaneço onde sempre estive, ideologicamente falando. 

No entanto, outras abordagens, surpreendentes ou insólitas, de quem julgávamos no outro lado da barricada, são bastante sugestivas e apontam para várias direções, com sugestões e propostas concretas, com o objetivo de melhorar a vida no concelho.

No meio de tudo isto, aparecem depois as perseguições de quem sente o seu espaço invadido ou se considera incomodado por eu ter dado a cara. Estas são as mais perigosas. E é aí que surgem os pedidos e os pareceres jurídicos para pôr em causa projetos pessoais, tentando pôr em causa um trabalho honesto e dedicado. Ou os obstáculos e as dificuldades para a realização de eventos que nada têm a ver com a esfera partidária, que nunca se vão realizar, para “que não me seja dado palco”. Tudo passa a ter uma conotação política. E talvez até seja mesmo assim. É difícil separar as águas.

Também isto não causa surpresa, mas não me demove de continuar a lutar pelas causas em que acredito. Porém, como dizia um grande político português, a política, sem valores éticos, é uma vergonha. Não valem todos os argumentos para tentar denegrir a imagem dos adversários.

PS - De salientar também todos os outros, que nos apanham, dando pancadinhas nas costas e nos dizem: "epá, vocês são os maiores! Grande equipa! Vão ganhar!" Posteriormente, vão para as redes sociais, tecer loas aos outros candidatos. São retalhos da vida política, ao nível das autarquias, que não deixam de ser engraçados!