23 Junho 2022      16:03

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PCP – Queda conjuntural ou autoflagelo?

Por Alexandre Carvalho

Começo por uma declaração de interesses, na maioria das vezes o meu voto recaiu na CDU, o que faz de mim um camarada simpatizante mas não um camarada militante. Não sou militante do partido graças a vários desvios ideológicos da minha parte, sendo o facto de não ser um Marxista-Leninista na sua essência, e de não concordar a 30% sequer da linha orientadora do partido a nível de política internacional.

O marxismo-leninismo defende que o indivíduo deve submeter o seu interesse ao coletivo. Em parte está correto, a nossa liberdade termina quando começa a do outro, devemo-nos solidarizar perante os mais desfavorecidos, devemo-nos vacinar para proteger o outro. Não obstante esta necessidade perene de olhar o todo, o indivíduo é a chave do coletivo, se este não se sentir estimulado não existe inovação, então o progresso ou existe à força como se verificou aquando das coletivizações forçadas das terras Soviéticas, ou com uma liberalização controlada de certos setores. Che Guevara tentou instituir o dia para o partido, onde uma vez por ano os Cubanos trabalhavam de borla para o país. Talvez seja só a sociedade consumista que leva o indivíduo a ter necessidade de conquistar mais capital, ou mesmo o indivíduo que não está programado para certos altruísmos, mas a verdade é que os dados não abonaram a favor de Che Guevara.

Quanto à política internacional, e por muito que custe, o PCP está bastante estagnado. Vive numa cegueira falaciosa sobre o mito da URSS, e com alguma simpatia pelos seus sucedâneos, como a Bielorrússia. Sobre as restantes “experiências” Socialistas como Cuba ou a Venezuela, privilegia sempre a crítica ao embargo assassino dos EUA do que uma crítica aberta aos atropelos da própria ideologia. Falta de liberdade sindical em Cuba, como pode ser corroborado? Falta de pluripartidarismo no parlamento? Idem. Em ambos os casos, a máquina do estado é demasiado burocrática para a iniciativa privada, sendo tudo controlado e definido pelo Estado, não havendo concorrência.

O mais recente caso Ucraniano é mais um exemplo desta ambiguidade comunista. São assertivos na crítica a Putin, mas legitimam o seu discurso na crítica que fazem a Zelenski. Ser contra o armamento Ucraniano já é moralmente difícil de compreender, pois seria deixar um gigante militar invadir facilmente o país, apesar de não sabermos em que mãos vão parar as armas, mas ser contra as sanções económicas, argumentando que também iremos sofrer economicamente, é demonstrar-se pouco solidário com um país que luta pela sua autodeterminação.

Se o leitor se encerra agora esta minha crónica diria que me situo à direita do espectro político, mas não, como disse no início sou um eleitor assíduo da CDU com todas as críticas que já apontei. Apenas sou heterodoxo e não ortodoxo. O partido tem uma importância única e essencial no país como contrapeso aos abusos do Neoliberalismo e de certo patronato, como pelas contantes exigências de aumentos do salário mínimo, pensões, creches gratuitas, reforço do SNS e da edução pública. Numa sociedade onde cada vez menos se fazem esforços coletivos o Partido Comunista perde a sua essência, assim como com a mudança, por um lado positiva, dos tradicionais setores de atividade como sendo o agrícola e o industrial que continuam ainda hoje a ser a principal base de apoio ao partido. Erradamente caminhamos para ser um país de serviços e com isso criamos uma sociedade mais indiferente ao próximo.

É essencial que o partido encontre uma liderança mais jovem, e que mude o paradigma do Centralismo Democrático, onde as decisões são muito burocráticas e hierarquizadas e que haja uma maior abertura à sociedade civil e não apenas ao militante. A sociedade deve a sua liberdade em grande parte aos esforços de muitos comunistas sem rosto, no entanto este agradecimento esfuma-se com o passar do tempo, então a sociedade tem que olhar o PCP como defensor de um programa que melhore a sua vida e não com questões que pouco dignificam o partido como o caso Ucraniano. É urgente para a vida do cidadão comum que o partido tenha futuro.

 

imagem de zap.aeiou .pt

 

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Alexandre Carvalho tem 24 anos e é natural do Porto. Licenciado em Comunicação Empresarial pelo ISCAP, ligado ao ramo do design de interiores e da vertente digital. Interessado pelo panorama da política nacional conta vir viver para o Alentejo, porque se enamorou por uma alentejana | alexandremiguel.c95@outlook.com