11 Março 2018      11:04

Está aqui

O PCP coloca a sua ideologia sobre o povo, em detrimento do pelo povo?

«Honestidade é o primeiro capítulo no livro da sabedoria» - Thomas Jefferson

 

E realmente parece ter tanta necessidade de se impor [honestidade] nos meandros da política, como forma de a edificar perante tantas afrontas por que tem passado recentemente.

Um ponto prévio. Sou daqueles que vive na política da indispensável absorção das ideologias como forma de construir solidamente, coerentemente e justificadamente uma sociedade solidária, justa e livre. Nessa dialéctica parece acertado dizer que quanto mais para o centro da acção política, menor é o grau de comprometimento com ideologias. Não será por isso que o exercício da actividade política também atravessa um período de maior tibieza e onde predomina com maior acutilância o chamado “politicamente correcto”?

Dito isto, nesse afã pessoal, identifico-me com o PCP na busca de uma sociedade mais equilibrada, desenvolvida e humana pela mão da ideologia que prevê um modelo de sociedade de futuro. Não podia estar mais nos antípodas do PCP sobre tipo de ideologia que coloco ao serviço da sociedade para a construir, no entanto aceito essa base de partida para esse objectivo.

E como talvez em tudo na vida, a honestidade é sempre uma benemérita presença nos desafios que se nos colocam pela frente, seja na vida pessoal, no exercício profissional, seja nas actividades sociais ou na luta partidária. Teremos sempre mais a ganhar, mesmo reconhecendo limites ou equívocos perante realidades que defendemos, empregando premissas de transparência, rigor e honestidade intelectual. E sinceramente parece que tem sido isso que tem rareado junto do Partido Comunista Português. Dou 2 exemplos, um nacional, outro mais provinciano.

Recentemente vivemos uma grande propaganda comunista interpelando a situação dos CTT. Referiu, aparentemente bem, a questão laboral e receios de despedimentos inusitados e desproporcionais na empresa e levantou o dedo para situações inerentes à deficiente qualidade do serviço prestado. Até aqui tudo relativamente consensual. O problema surge na praxis usada pelo PCP para denunciar esta polémica, exteriorizando uma postura manifestamente ideológica, nada séria pois não deu o direito do contraditório e da solução institucional a um problema que urgia resolver. Relatou todos essas suspeitas e queixas dos funcionários, comissões de trabalhadores e, alegadamente de clientes dos CTT insatisfeitos com o serviço prestado. Mas não havia outra forma de apontar críticas [construtivas] e de emendar a situação negativa denunciada? Parece-me que sim. As comissões de trabalhadores, os seus sindicatos poderiam apontando a crítica ao Governo e aos partidos de oposição, fazer chegar essas mesmas insatisfações a quem de direito efectivo, à entidade que tutela, regula e fiscaliza esse sector, a ANACOM. Ao invés disso, boicotam de forma articulada e crescente a actividade da empresa e pronunciam-se «até que os CTT regressem ao controle público e voltem a prestar um serviço de qualidade e universal» enviesando qualquer possibilidade de mitigar ou resolver os problemas detectados. Criticam (aqui com o beneplácito do PS) de forma pouco edificante e imprecisa a responsabilidade exclusiva de Passos/Portas no contrato de concessão (que não é o mesmo de privatização, nomeadamente por permitir findo o prazo de concessão que o serviço possa reverter para o Estado novamente) que se iniciou em 2013. Assumem com total cumplicidade do PCP que o acordo não está a ser cumprido, mas também não lhes interessa que seja efectivamente cumprindo ou, no limite que possa ser revisto em concessão futura corrigindo eventuais lacunas ora identificadas.  O que lhes interessa simplesmente é a nacionalização desta empresa, haja motivos ou palpáveis para o empreender, omitindo por exemplo que no ano logo após ao início da concessão o tal suspeito e maquiavélico governo Passos/Portas instaurou processos de 10 multas que se traduziram em cerca de 150.000€ que os CTT tiveram de pagar por manifesto incumprimento do tal contrato de concessão. Assim nem estas comissões de trabalhadores, comunistas encapotadas, nem o PCP estão a contribuir para a clarificação do assunto, nem sobretudo para a salvaguarda da qualidade e segurança dos postos de trabalho dos trabalhadores dos CTT.

Por outro lado, recordo mais regionalmente o impasse de mais de 5 meses para a eleição do presidente da CIMAC [Comunidade Inter-Municipal do Alentejo Central], onde se degladiaram fraticidamente PS e PCP pela conquista do lugar de presidente. Recentemente lá se conseguiu esboçar um entendimento mínimo com um sistema inaudito de presidência rotativa entre PS e CDU, mas sem entretanto ter beliscado fortemente, por um lado a capacidade de intervenção deste organismo me questões tão importantes tais como a linha ferroviária que passará a breve trecho pelo distrito, a urgente construção do Hospital Central de Évora, a alternativa necessária para o aterro inter-municipal, apoios necessários e estruturantes para a economia, por via do turismo e a discussão do processo de descentralização de competências que está a ser avançado pelo governo PS, por outro lado a capacidade de obtenção de verbas comunitárias e estatais de forma a concretizar muitos dos projectos pendentes da CIMAC.

O PCP até pode não concordar com estes organismos intermédios da administração pública, mas ou não entra no jogo e se recusa previamente a participar nestes ensejos ou aceitando integrar os mesmos, deverá trabalhar proficuamente e honestamente para que os seus objectivos sejam plenamente e oportunamente alcançados. Obviamente que este impasse se por um lado demonstrou uma latente crispação e ressabiamento do PCP por ter perdido 1/3 das suas autarquias nas eleições de 2017 e um anseio tremendo pela perpetuação no poder, reflecte também uma estratégia velada de boicote propositado ao funcionamento deste tipo de organismos que poderiam funcionar bem e, dessa forma atentar contra a sua agenda pró-regionalização.

O PCP tem todo o direito de fazer passar as suas bandeiras e ideias para o país, só não o deveria fazer colocando sistematicamente grãos na engrenagem do funcionamento do Estado de Direito e sobretudo das instituições criadas e existentes para dotar o pais de melhores condições de trabalho e vida aos seus concidadãos. Necessita-se que este PCP se reveja nos processos democráticos e institucionais, só assim poderia trazer mais qualidade à nossa democracia. De outra forma, pode escrever um livro para as suas populações que, sem honestidade nele contida não trará sabedoria para afirmar soluções viáveis de futuro. Mas esse é um desafio que terá de ser feito internamente pelo PCP, a bem da sua viabilidade futura.

 

Imagem de upload.wikimedia.org