6 Julho 2018      18:48

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Palpites

Estamos em tempo de Verão. Naquela época do ano em que tudo acalma. As coisas começam a funcionar a meio gás, muito meio gás. Talvez seja do calor. Talvez seja da ausência de pessoas. Este ano, devido ao tempo que no continente se faz sentir, as coisas não estarão tanto assim. Há menos gente nas praias ainda. Chove ora sim, ora não e não há temperatura suficiente nas águas do Algarve. Hoje, por exemplo, estão 17 graus na água. Não dá para molhar o pezinho, muito menos a canela e o joelho. Não me referirei ao resto. O peito certamente se ressentiria igualmente. Palpita-me, que se isto não melhora, não apanharei grande sol na pele.

A praia é sempre um lugar de sossego e de desalento/desassossego. As areias, incontáveis nos grãos espalham-se e, tantas vezes, se colam aos corpos já molhados ou pela água ou pelo necessário protetor solar. Depois há a toalha. Há que a por na areia e estender o corpo em cima para, o sempre desagradável vento não a levar. E quase sempre a leva. Simultaneamente é preciso pôr o chapéu-de-sol, bem fixo na areia para que não vá embora para cima do casal que, duas toalhas a seguir, namora. O importante é ficar sossegado uns minutos, fechar os olhos e apanhar algum sol, depois de ter molhado o pezinho ou todo o corpo na água.

Antes de sair de casa, é fundamental dar palpites. Palpita a família toda. Não vou enumerar membros pois não estava presente na discussão. Sabiam todos que a ida era à praia. Para isso tinham alugado o carro e arrendado aquele apartamento T2, durante oito dias. Palpitaram, mal, que o tempo ia estar bom. Enganaram-se. Não se podia esperar que este ano o verão fosse só uma mera categorização no papel e não uma realidade verificada.

Abalaram para o Algarve de carro e de mala cheia. Instalaram-se. Um dava palpites. A outra dava palpites e todos ouviam os palpites. A praia era, claro, o centro e alvo de todos os palpites. Da janela via-se o mar e a bandeira verde. Dizia a bandeira que podiam ir ao mar. Isso pouco interessaria se não pudessem molhar a canela, palpitava um deles. Basta ficar ao sol. Não podemos voltar à cidade com a mesma cor com que chegámos. Palpitava outro. Os restantes ouviam os palpites e esses, valem o que valem. Quantas vezes não palpitamos os resultados de jogos ou resultados de eleições e nos enganamos. Tantas. Às vezes acerta-se, mais ou menos outras tantas, erra-se. Como sempre ouvi, desde pequenino, teima, teima mas não apostes.

Aqui ninguém apostava. A meteorologia era o que era e o seu palpite não era famoso. Dizia o homem que fala na televisão que lá para o final da semana iria melhorar. Estamos em julho e nunca, há pessoas que em seu tempo de vida, nunca viram chuva nestes dias. De facto, este tempo propício a adversidades já me constipou, coisa que não palpitei que me acontecesse. Felizmente só me faz espirrar e não me dá palpitações. Com essas já estavam os turistas que não viam maneira de chegar às águas do atlântico e mergulhar.

Foram à Guia comer um franguinho e procuraram dormir em sossego, deixando os palpites sobre o tempo para o raiar do sol do dia seguinte. Assim sucedeu. Não tinham ainda os galos cantado, não o fizeram porque não havia nenhum, temos de admitir, já ele estava a abrir a janela e a ver as temperaturas. Palpitava que hoje seria bom para ir à água e lá foram todos. Toalhas no cesto, merenda no cesto, chapéu debaixo do braço e outro na cabeça e calção na perna, acompanhado de camisa de alças e chinelinho no pé. Era verão e é assim que a gente se veste. O fato de banho está de baixo. Era cedo e a essa hora ainda não dava para ver se a temperatura subiria. Depois de todo o processo de luta contra o vento e areia, a calma. Duas horas depois primeira tentativa de molhar o pé. Tentativa e erro. Fuga para a areia. A aplicação não dava mais de 17 graus. Palpita-me que nesse dia ainda não molhariam o cabelo. Amanhã talvez. Foi esse o palpite de todos, pelo menos antes das sardinhas.

 

 

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