5 Setembro 2016      14:05

Está aqui

PACTO DE XANGAI, O "NOVO" INIMIGO NATURAL DA NATO

Agiganta-se a cada dia que passa um novo bloco regional internacional. A SCO, sigla para Shanghai Cooperation Organisation, que se traduz para Organização para a Cooperação de Xangai, ou de forma mais simplificada Pacto de Xangai, foi um projecto criado há precisamente 20 anos sob o nome de “Os 5 de Xangai”, nome que viria a ser alterado para o actual aquando da entrada do Uzbequistão na organização, juntando-se aos 5 fundadores China, Rússia, Cazaquistão, Quirguistão e Tajiquistão. Daí a palavra “novo” se encontrar entre aspas no título, esta organização já conta com 20 anos de actividade desde a sua fundação em 1996.

Os objectivos da sua criação parecem bastante claros, criar uma organização cooperativa do ponto de vista económico, político e militar, no sentido de contra balancear o domínio geopolítico internacional da NATO. É clarividente a existência de uma visão anti-ocidental nesta organização, tanto por parte das suas decisões comuns, como por parte das visões individuais de cada Estado membro, sendo a Rússia de Putin e a China de Xi Jimping, líderes naturais desta organização, as vozes mais activas do discurso anti-ocidental.

Após a queda do bloco soviético em 1991 e com a consequente extinção do Pacto de Varsóvia, criava-se um vazio de poder geopolítico que esse pacto salvaguardava. Aquando da sua extinção essa salvaguarda deixou de existir, e uma economicamente debilitada Rússia, não conseguia através dos seus meios preencher esse vazio, necessitava da colaboração dos seus vizinhos, e a urgência era grande, pois o medo de ver florescer em seu redor bases militares da NATO era o maior medo de Moscovo. Daí até 1996, ano da assinatura do Pacto de Xangai passaram apenas 5 anos, e desde então, houve um aumento exponencial da convergência económica, política e militar entre os Estados membros, especialmente no eixo Moscovo-Pequim.

Convém não esquecer que apesar de inferiores capacidades económico-militares (por enquanto), o Pacto de Xangai já conta com o 2º e 3º maiores exércitos mundiais, Rússia e China, estando o 5º e 11º maiores em fase de adesão, Índia e Paquistão, que conglomerados formarão um eixo militar sem precedentes no continente Euro-Asiático.

É de registar também o facto do Irão ser membro observador desta organização e a Turquia parceiro de diálogo, registando-se por parte destas nações um reaproximar de relações com Moscovo, criando um eixo triangular que sozinho tem sob a sua alçada o estreito de Bósforo na Turquia e toda a região do Cáucaso (Geórgia, Arménia e Azerbaijão). Região onde tanto Estados Unidos e União Europeia, e em certa medida a junção dos dois (NATO), possuem fortes interesses económicos e geopolíticos, com investimentos do sector energético afectos aos recursos naturais do Mar Cáspio, com passagem pelo pipeline Baku-Tbilissi-Yerevan, erguido com investimento europeu e americano. Bem como o interesse da NATO em permanecer presente na Geórgia com as suas bases militares estabelecidas após a tentativa de invasão russa em 2008. Sem esquecer ainda neste raciocínio o facto da Turquia ser membro efectivo da NATO, organização com a qual se tem vindo a registar um decréscimo de confiança entre Turquia e restantes Estados membro resultante de diferendos relativos à intervenção no conflito sírio, abate do caça russo, e mais recentemente da duvidosa tentativa de golpe de Estado na Turquia, da qual estão a resultar profundas purgas em todos os sectores de actividade turcos, acções que já levaram o governo norte-americano na pessoa do Secretário de Estado John Kerry a ameaçar a expulsão da Turquia da aliança atlântica.

Concluindo podemos afirmar que o florescer do Pacto de Xangai, leva a que o Ocidente considere fortemente que posição deseja ocupar no panorama internacional nos próximos 20 anos. O crescer deste pacto no coração da Ásia, que apesar de parecer longínquo possui uma esfera de influência que abraça o Ártico, o Pacífico, a península da Indochina, o extremo sul da Índia, o Índico, o Médio Oriente e termina às portas da Europa no estreito de Bósforo, Crimeia e Mar Báltico torna o Pacto de Xangai no maior “inimigo” natural do eixo ocidental NATO (América do Norte - Europa), desde os tempos da mais acesa Guerra Fria entre NATO e Pacto de Varsóvia. Este “novo” entendimento antagónico ao mundo ocidental ameaça ser o maior desafio da história da Aliança Atlântica desde a sua fundação em 1949. Desafio esse que, se para o qual não abrirmos a nossa consciência e acção o quanto antes, poderemos estar a olhar para o principio do fim do domínio internacional do Ocidente em que vivemos, e para o fim da Aliança Atlântica como união politico-militar da civilização ocidental.

Imagem de capa daqui.