28 Junho 2016      13:16

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OS VELHOS DE INGLATERRA

“100 NOTAS DE ECONOMIA”

Na ressaca do referendo em que democraticamente os Ingleses disseram “Não” à União Europeia, muito se tem falado, escrito e comentado.

Eu obviamente não o poderia deixar de fazer na minha crónica de hoje.

Vamos então por partes: qual o impacto em Portugal? Sim, porque da mesma forma que a maioria dos Ingleses prefere preocupar-se primeiramente consigo, de seguida consigo e por último lugar CONSIGO, também nós Portugueses podemos ser um pouco egoístas e pensarmos em primeiro lugar nas consequências que poderão decorrer desta decisão para nós.

De certeza que a nossa economia, pequena, bastante aberta ao exterior e em fase de recuperação (será?) irá sofrer os impactos vindos de uma das economias mais fortes do Mundo. Esta será certamente uma realidade, contudo a dimensão e efeito do impacto é que poderá ser muito diferente, especialmente se formos proactivos.

Em termos do Turismo, um dos nossos principais mercados é sem dúvida nenhuma o Britânico. Uma desvalorização da Libra acompanhada por um expectável abrandamento da sua economia terá os seus efeitos. Não creio que as “caras” que costumamos ver a passear pelo nosso Algarve vão mudar muito. A nossa cerveja continuará a ser mais barata que em Londres. Os voos low cost vão continuar a ser low cost. Talvez possam não consumir tanto quanto antes, mas vão continuar certamente a consumir. E se não o fizerem podemos sempre aproveitar para diversificar a origem dos nossos Turistas. Existe tanto mercado por explorar!

Para os nossos emigrantes, intensificar-se-ão burocracias e entraves à livre circulação de pessoas, mas a falta de mão-de-obra qualificada persistirá e os nossos enfermeiros, por exemplo, continuarão a ter as mesmas oportunidades. E ainda que o ordenado em Libras não tenha o mesmo valor em Euros que já teve, continuará a ser mais elevado do que aquele que teriam cá em terras lusas.

Estando Lisboa no mesmo fuso horário que Londres, a inevitável deslocalização que irá acontecer (já se fala que 1 em cada 5 empresas pondera esta decisão) pode transformar-se numa excelente oportunidade. É só uma questão de nos posicionarmos corretamente e conseguirmos atrair o peixe, algo em que julgo sermos bastante bons!

Essencialmente, para um rol extenso de argumentos, podemos sempre encontrar diferentes perspetivas e não entrar para já em grandes histerias ou alarmismos. Se a maioria das pessoas de um pais não quer pertencer a um projeto europeu, fazer o que? Até no meu condomínio já houve tentativas de “independência”. É a vida, se alguém não reconhece vantagens de estar inserido em algo, se deixa de se identificar com o objetivo comum defendido, então que saia.

Se isto foi só o primeiro passo para o desmembramento da União Europeia? Também este alarmismo não me tira o sono. Por um lado, a União Europeia (as suas instituições e os seus responsáveis) devem tirar daqui as ilações necessárias e alterar o que considerarem ser alterável. Nos nossos tempos as coisas mudam a uma velocidade estonteante, logo tudo o resto deve acompanhar essa mudança.

Por outro lado, mesmo com todo o ceticismo ou radicalismo que se vai verificando noutros países, não acredito que comecem a surgir referendos em cadeia. Novamente com todo o egoísmo que hoje me é permitido, vejamos o caso do nosso País. Mesmo com várias políticas falhadas, outras no mínimo discutíveis, mesmo com falta de autonomia e soberania, a nossa inclusão na União Europeia, beneficiando, entre outros, dos fundos comunitários, permitiu-nos em pouco tempo alcançar um nível de desenvolvimento que não seria possível doutro modo.

Voltando ao referendo, um dado que para mim merece reflexão é ver “quem” queria ficar na União Europeia e “quem” queria sair. Achei muito interessante constatar que as faixas etárias abaixo dos 50 anos queriam a permanência, e as acima desta idade é que votaram pela saída.

Que leitura se pode e se deve fazer disto? Que os mais jovens acreditam no projeto europeu? Que privilegiam a liberdade de circulação? Ou que os mais velhos se cansaram de contribuir para os países pobres? Que não querem receber quem foge da guerra? Que continuam com algum complexo colonial?

Não sei bem, mas talvez não haja grande razão para alarme. Para muitos de nós, o que importa agora é Portugal vencer o jogo na próxima quinta-feira à Polónia. Depois disso, logo se vê… O meu prognóstico? Provavelmente chega Agosto e emigramos todos para o Algarve, comemos bolas de Berlim e bebemos cerveja à caneca com aqueles velhos ingleses que não querem pertencer à União Europeia. Cheers!! Que é como quem diz…à nossa!

 

Imagem do filme "The Lady in the Van" (2015, real. Nicholas Hytner).