16 Outubro 2020      09:04

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Os Recursos Humanos no setor Agrícola

Se a pandemia lançou um desafio ao país no que diz respeito à sua capacidade para gerar e manter postos de trabalho, esse desafio tornou-se particularmente complexo no Alentejo. As principais indústrias da região têm emagrecido os seus quadros, e é com natural apreensão que milhares de trabalhadores de micro, pequenas e médias empresas abordam o futuro imediato. Observa-se, porém, que existe um setor que se tem mantido imune a toda esta incerteza e que pela importância do negócio na sociedade, tem agora a visibilidade e a oportunidade para se profissionalizar: o setor agrícola.

Apesar de muitas empresas terem já iniciado o processo de digitalização e profissionalização dos seus processos, ainda é muito difícil atrair e reter talento nesta indústria. Em primeiro lugar, continuamos a verificar o êxodo rural dos nossos jovens, o que retira ao Alentejo o potencial para aqui fixar pessoas qualificadas e assim regenerar e inovar na região. Em segundo lugar, verifica-se que as empresas estão apenas a dar os primeiros passos na criação de departamentos de recursos humanos altamente qualificados, e com capacidade de dar resposta ao desenvolvimento comportamental e profissional que os seus colaboradores e empresas necessitam.

E é aqui que reside uma enorme oportunidade.

Se no século passado assistimos à ascensão hierárquica de departamentos comerciais e de departamentos financeiros, esta década poderá ser a da justa credibilização e ascensão do departamento de recursos humanos nas Organizações. A aposta em profissionais qualificados nesta área pode ser a chave para uma profunda mudança na forma como a empresa se posiciona perante candidatos, colaboradores e clientes, com um significativo impacto nos resultados operacionais.

Se para além de políticas de recursos humanos inovadoras, seja proporcionada uma boa experiência aos candidatos num processo de recrutamento e seleção, será conquistado um Cliente, mesmo que este candidato não seja selecionado. Por outro lado, se for garantido o acompanhamento próximo aos colaboradores, estes serão o principal vetor de marketing da empresa. Apesar da simplicidade da solução, o processo é complexo e não é caso para menos: o chamado "employer branding" é um conceito pouco conhecido no Alentejo, apesar de estar presente nas grandes Organizações em Portugal e no mundo.

O setor agrícola pode, finalmente, ombrear com indústrias que têm processos e políticas de recursos humanos muito evoluídos, bastando para isso dar a oportunidade à mudança, que é, na grande maioria dos casos, o principal entrave ao desenvolvimento das empresas.

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Sobre o autor: Duarte Meneses é natural de Lisboa mas cedo se apaixonou por Évora e é lá que hoje reside. Licenciado em Psicologia com especialização em Psicologia do Trabalho, é atualmente aluno de Mestrado em Gestão na Universidade de Évora. Trabalhou como Consultor de Recursos Humanos em Portugal e Angola, e atualmente é Gestor de Recursos Humanos em empresas agrícolas da região.