18 Abril 2020      10:01

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Os novos rei-Sol

Na França, no séc. XVII, havia o absolutismo do rei Sol.

Maximizado pelo COVID-19, nos EUA - que nunca tiveram um rei - agora, em pleno séc. XXI, parece haver o Rei-Presidente que substitui o(s) Estado(s): Trump.

Enquanto corta os apoios à Organização Mundial de Saúde, acusando-a de ter ignorado o vírus – faz lembrar aquela história de uma mentira contada muitas vezes… - faz questão de ter o nome dele nos cheques de auxílio à população norte-americana. Só lhe falta ainda vir dar uma de Rui Moreira (presidente da Câmara do Porto) e dizer que existe "Um sentimento arreigado em pessoas que acham que 'este mundo' seria melhor sem 'os EUA'".

Não consigo encontrar outro nome para isto que não seja um populismo de baixa qualidade, de tentativa de reescrever a realidade com aproveitamento de um momento difícil para o Mundo, no caso específico, para a população norte-americana, que pode sofrer mais consequências pela desvalorização inicial que - ele sim - Trump, fez do vírus e pelas decisões baseadas na sua opinião e não com base científica.

Mas por cá também há um punhado destes políticos, numa escala infinitamente inferior, que gostam de aparecer em tudo, que fazem questão de ir a casa da "ti" Ana, e de toda a malta do feudo, entregar a máscara ou o tupperware com sopa para poder dizer: "Fui eu. Vejam-me.".

Claro, chamaram-me à atenção, que não há mal se a “ti Ana” precisar mesmo das coisas, aliás, é de mais ações destas que se precisam. O que não será preciso são as fotos exibicionistas.

Mas as ações de Trump parecem retirada de um manual para ditadores e que volta e meia gere o país como se fosse uma empresa sua, pensando que é dono e senhor, Trump chegou mesmo ao ponto de ameaçar todos os governadores com a sua autoridade para levantar as restrições que estes impuseram para controlar a pandemia, uma vez mais, porque sim, porque ele quer. Ponto. Entretanto voltou atrás, mas não apaga o que disse.

Dizia um amigo meu, e com alguma razão, que qualquer dia Trump manda colar autocolantes com a sua cara nas notas de dólar, por cima de George Washington, só para fazer um pouco mais de campanha para as eleições que se aproximam.

Criticaram as valas comuns no Irão, mas vimos fazerem o mesmo no país da corrida ao espaço.

À época, critiquei o Nobel da Paz atribuído a Obama; à época não lhe reconhecia mérito suficiente para o feito; agora percebo. Muitas vezes “é preciso correr muito para ficar no mesmo sítio”, como disse o coelho de Alice no País das Maravilhas. Obama foi um pouco assim, manteve relações mais estáveis a nível externo que Trump e, internamente, tentou fazer dos EUA um país mais justo e igualitário, mesmo com a conjuntura económica contrária. Uma tarefa que, como se pode ver, não terá sido nada fácil.

Mas mais abaixo, no Brasil, Trump tem aquilo a que os americanos chamam “copycat”, um imitador à séria. As atitudes face ao vírus têm sido semelhantes, e junta ainda uma pitada de fanatismo religioso à ignorância ativa e selvagem. Esperemos que, também aqui, os governadores e “prefeitos” saibam contornar tamanha ignorância e protejam as pessoas.

 

Imagem de independentpersian.com