6 Julho 2016      13:02

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A GLÓRIA ESPÚRIA DO BREXIT

"SEM MEIAS NEM PEIAS"

A saída do Reino Unido da União Europeia (UE) tem como efeito imediato colocar o foco da classe política europeia em torno das questões do Brexit, usurpando, assim, energia e recursos políticos essenciais ao aprofundamento e desenvolvimento do projeto europeu. E, tudo acontece, precisamente, numa altura em que a UE tem muitas outras questões prementes para resolver, como a crise dos refugiados, as ameaças internas e externas de segurança, a perda de competitividade e o futuro da moeda única.

Contudo, a decisão de abandono do Reino Unido constitui uma derradeira oportunidade para a UE restaurar a credibilidade do projeto europeu e torná-lo mais aberto, democrático e transparente, nomeadamente no que diz respeito à estrutura de tomada de decisões.

Já é tempo de os responsáveis europeus, em Bruxelas, adotarem uma praxis política que defenda o cidadão europeu, independentemente da sua nacionalidade, que combata as desigualdades sociais e que elimine a pobreza, que promova ativamente políticas de emprego e que defenda a dignidade humana.

Quer-se uma Europa para as pessoas e não para os mercados! Uma Europa refundada na esperança e no sonho europeu de um futuro melhor. Um futuro que leve em consideração as preocupações da geração mais jovem. Um futuro que responde às suas aspirações.

Os europeus estão ansiosos para preservar e construir uma região próspera e segura para todos. E, só envolvendo os cidadãos, no que parece ser hoje um processo muito distante gerido por uma elite a partir de Bruxelas, é que a UE pode responder eficazmente à ascensão do populismo e de movimentos antieuropeístas.

Assim, os órgãos políticos da UE devem simplificar as regras e envolver mais os cidadãos no processo democrático de tomada de decisão, que por sua vez deve ser mais aberto a uma variedade de perspetivas e formas de participação.

Por outro lado, os cidadãos europeus devem entender o projeto europeu em termos de oportunidades, não de ameaças. E, isso requer um novo tipo de pacto social para a Europa e um modelo muito diferente de funcionamento da UE.

Cabe aos líderes políticos europeus preparar, o quanto antes, o futuro a 27 e manter a zona euro unida e coesa perante os eurocéticos, que inspirados pelo resultado do referendo no Reino Unido clamam por novos referendos, com o objetivo de desmantelar o projeto europeu, incitando ao ódio, à intolerância e ao divisionismo.

No fundo, o voto Brexit apenas expôs, de forma singular, a distância entre a elite da UE e muitos europeus comuns que se debatem com o impacto da globalização e da crise financeira de 2008.

A vitória do Brexit vai exigir, acima de tudo, uma liderança forte e determinada em torno dos ideais europeus. Enquanto isso, a vida continua.

Imagem daqui.