9 Janeiro 2022      12:44

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Opinião do leitor: O canto da sereia extremenha

Por Paulo Jorge Dias Fernandes

A Junta Autónoma da Extremadura em Espanha afirma pretender homenagear Portugal e os portugueses reproduzindo o nome de um dos símbolos da capital portuguesa, a ponte 25 de Abril, na nova ponte sobre o rio Guadiana a inaugurar brevemente na cidade pacense de Badajoz.

Esta é uma mostra da crescente aproximação da comunidade da Extremadura espanhola a Portugal, que vê o nosso país como uma importante peça na promoção do seu próprio desenvolvimento e na defesa do protagonismo regional que pretende estabelecer na península. Um canto de sereia que não deve, nem pode, embalar os portugueses.

A verdadeira homenagem a Portugal e aos portugueses ocorreria se a Junta da Extremadura decidisse liderar um movimento que levasse à aceitação por parte do governo espanhol da atribuição – justíssima diga-se – do nome do General Humberto Delgado a outra ponte ali vizinha: a ponte que liga Elvas a Olivença, construída no inicio deste século, custeada exclusivamente pelas autoridades portuguesas que, sustentadas no Direito Internacional, não reconhecem ali, naquela zona do Guadiana, a existência de qualquer linha de fronteira.  

Também ele um símbolo para Portugal e para os portugueses, destacado opositor ao Estado Novo, combatente da Liberdade e da Justiça, ao General Humberto Delgado não podia passar silenciado o drama histórico que a ocupação estrangeira de Olivença significava. Foi precisamente esse seu amor Olivença, que terá sido usado como pretexto para aí o atrair na tarde do dia 13 de fevereiro de 1965 a uma cilada, fazendo-o acreditar que aí reuniria com militares portugueses e aí encontraria apoios para a luta que então travava. Morto perto de Olivença, já sem vida, terá cruzado a velha vila portuguesa, a caminho de Villanueva del Fresno (Espanha) onde o corpo foi abandonado.

Para consolidar ligações entre ambos os lados da raia as relações entre ambos os estados não se podem assentar em equívocos e estórias mal resolvidas. As pontes entre os dois estados ibéricos, que se querem firmes e douradoras, constroem-se com ações concretas e plenas de sentido e não com pretensões e manifestações ocas e desprovidas de real essência. Numa demostração eloquente que as palavras e pretensões espanholas nem sempre se traduzem em ações, recordemos que em 1817 – em Viena perante outras nações – Espanha manifestou pretensão de devolver Olivença porém ainda aguardamos que o faça.

 

Imagem de wikimedia.org