17 Fevereiro 2016      14:45

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ONDE É QUE EU JÁ VI ISTO!?

"SEM MEIAS, NEM PEIAS"

Segundo os entendidos e ao que parece, a economia europeia foi a que começou pior o ano de 2016, com uma queda de 23% em relação aos 13% do período homólogo.

No olho do furacão surge o Deutsche Bank, depois de um analista do Credit Sights ter colocado em causa a capacidade da instituição para reembolsar as obrigações convertíveis de capital contingente (conhecidos como CoCos). O que levou as ações do banco alemão a afundarem mais de 9%, obrigando a instituição a emitir um comunicado, pouco habitual, para assegurar que tem forma de cumprir as suas obrigações.

Dei comigo a pensar, onde é que eu já vi isto!? Sempre que assisti à emissão de comunicados para tentar acalmar os ânimos do mercado, o que testemunhei foi a queda da instituição bancária visada. Em Portugal, são exemplos os casos de BPN, BPP, BES e BANIF, todos eles emitiram comunicados nos quais destacavam a solidez e a robustez da respetiva instituição. E, no entanto, bem sabemos como cada caso terminou...

Aprofundando o assunto, registei com estupefação a declaração do ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, que garante não estar preocupado com o Deutsche Bank. O mesmo ministro que, a propósito do esboço do Orçamento de Estado para 2016 apresentado pelo governo português, afirmou à entrada da reunião do Eurogrupo, no dia 11 de fevereiro, que Portugal "deve estar ciente de que pode perturbar os mercados financeiros se der impressão de que está a inverter o caminho percorrido".

Ah bom!!! Então, para o ministro das Finanças alemão, Portugal não pode perturbar os mercados financeiros, mas, o Deutsche Bank! isso é um não assunto. Afinal, uma possível crise nessa importante instituição financeira, do país de que é ministro, apenas teria um efeito dominó desastroso na poderosa Alemanha e, consequentemente, na Europa e no mundo. Nada demais.

Ora, estas declarações até davam vontade de rir se o cenário não fosse bem pior do que o agora apresentado. Na verdade, as ações do banco caíram cerca de 95 por cento desde 2008, colocando a nu as fragilidades que pairam sobre a Europa desde o início da crise do subprime desencadeada em 24 de julho de 2007.

Recorde-se, ainda, que no mês passado, o Deutsche Bank divulgou um prejuízo, para quarto trimestre de 2015, líquido de 2,1 mil milhões de euros, sendo que o prejuízo líquido do ano de 2015 ascende a cerca de 6,8 mil milhões de euros.

Por outro lado, o novo plano de reestruturação projetado para Deutsche Bank, divulgado pelo novo presidente-executivo John Cryan em outubro de 2015, prevê cortar 15.000 postos de trabalho, cerca de 15 por cento da força global de trabalho da instituição a que preside. Acresce que o banco, também, pretende encerrar operações em 10 países, como o México, Finlândia, Dinamarca e Noruega. E se juntarmos a isto tudo uma série de problemas legais que perseguem a instituição desde a crise financeira global de 2008 temos todos os ingredientes para uma tempestade perfeita.

De fato, os problemas do Deutsche Bank não surgiram do nada, têm estado bem escondidos. No fundo, o enfâse que os dirigentes europeus deram à crise grega – a origem de todos os problemas europeus –  e também à crise portuguesa, irlandesa e espanhola, apenas tiveram como objetivo encobrir as metástases que envolvem o maior banco privado da Alemanha, e também o maior da Europa. Na prática, os últimos sete anos de apoios concedidos pelo BCE ao Deutsche Bank tiveram como principal objetivo evitar o colapso eminente do banco.

Se o maior banco privado Europeu colapsar como um castelo de cartas, desencadear um novo caso Lehman Brothers. Só que desta vez, nem os bancos centrais nem os governos estarão em condições para travar tamanha derrocada.

Aguardo sequela desta duvidosa produção cinematográfica de guião repassado e medíocre.

 

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