Não foi descoberta agora, mas continua a surpreender os especialistas a cada campanha arqueológica realizada.
É uma estrutura de madeira da Pré-História e achado único na Península Ibérica; situa-se no sítio arqueológico dos Perdigões, próximo de Reguengos de Monsaraz, e tem uma planta circular e mais de 20 metros de diâmetro.
Esta estrutura foi encontrada por arqueólogos nos arredores de Reguengos de Monsaraz e foi agora alvo de uma grande reportagem na conceituada revista “National Geographic”.
O local terá assumido desde o início um importante papel para as comunidades que habitavam aquela zona na Pré-História Recente e seria, provavelmente, um sítio aglutinador de populações de várias regiões, tal como um santuário, que aí se reuniam para a prática de cerimónias rituais, algumas delas relacionadas com o culto dos mortos e dos antepassados.
Este povoado dos Perdigões situa-se a cerca de um quilómetro da cidade de Reguengos de Monsaraz e é um complexo arqueológico composto por vários recintos delimitados por grandes fossos, que inclui uma área de necrópole e um cromeleque ou recinto megalítico cerimonial definido por vários menires, ocupando uma área superior a 20 hectares. Iniciado no Neolítico Médio, há cerca de 5.500 anos, prolongou-se durante toda a Idade do Cobre e chegou ao início da Idade do Bronze, há 4.000 anos, altura em que ocorreram profundas mudanças sociais e cosmológicas que levaram ao seu abandono.
Apesar de descoberto em 1983, este complexo mágico-religioso só em 1997 começou a ser escavado.
A Era Arqueologia iniciou as campanhas de escavações arqueológicas em 1997 e desde esse ano foram intervencionadas várias áreas, tendo sido descobertos sepulcros de inumações secundárias e de inumações primárias ou depósitos de restos de cremações humanas com cerca de 4.500 anos, que eram pouco comuns nessa época. Associado a estes contextos de cremações humanas, foi encontrado pela primeira vez em Portugal um conjunto de estatuetas antropomórficas em marfim, de grande naturalismo e beleza estética, que podem representar divindades, pessoas ou estatutos sociais concretos, ou grupos de identidade ou parentesco.
A Herdade dos Perdigões é um campo arqueológico com 16 hectares e um dos momentos de grande relevo foi um conjunto de cerca de 20 estatuetas com cerca de 4500 anos.
António Valera - o arqueólogo ERA Arqueologia – anda há quase duas décadas a investigar os Perdigões e as escavações permitiram descobrir pequenas estatuetas de marfim africano – 12 a 15 centímetros - com o corpo esguio, bem delineado, tatuagens faciais e olhos grandes que poderiam ter tido incrustações
António Valera, considerou, à época, considerou esta uma "descoberta única" em Portugal e que contrariava o imaginário e que mostra o Homem pré-histórico como rude e brutamontes, mostra uma “simbiose com o mundo natural” e que na “Pré-História havia um grande grau de sofisticação que está muito longe do preconceito."
A Herdade dos Perdigões era um povoado que terá tido início com as comunidades neolíticas, há cerca de c.5500 anos. Terá tido grande importância na região e era local de festas cerimoniais e de rituais associados ao culto dos mortos e o complexo é constituído por fossos concêntricos escavados na rocha que culminam num centro geométrico, tendo revelado uma necrópole e um recinto cerimonial megalítico e tendo-se transformado em local de grande interesse da comunidade científica internacional e numa referência para a investigação da pré-história europeia.
Em declarações à agência Lusa, em agosto passado, o arqueólogo António Valera, revelou que esta estrutura é “única na Pré-História da Península Ibérica”, e “seria composta por vários círculos concêntricos de paliçadas e alinhamentos de grandes postes ou troncos de madeira, a qual foi já exposta em cerca de um terço da sua planta”. Seria “uma construção de carácter cerimonial”, conhecida apenas na Europa Central e nas Ilhas Britânicas com as designações de “Woodhenge”, “versões em madeira de Stonehenge”, ou “Timber Circles” (círculos de madeira). Valera sublinhou ainda que “esta é a primeira a ser identificada na Península Ibérica, estando datada entre 2800-2600 antes de Cristo (a.C.), ou seja, será anterior à construção em pedra de Stonehenge [em Inglaterra], para a qual se tem avançado uma cronologia em torno a 2500 a.C.” tendo o monumento alentejano fortes ligações de “caráter cosmológico”, “orientado ao solstício de verão”, uma situação que também se verifica noutros “woodhenges” e “timber circles” europeus”.
Este anfiteatro natural, aberto ao vale da Ribeira de Vale do Álamo - onde se situa uma das maiores concentrações de monumentos do megalitismo alentejanos - já reconhecido, em 2019, com a classificação como Monumento Nacional.
O número de visitantes não é ainda condizente com a importância e relevo do achado monumental.
O complexo está é escavado e estudado, há 23 anos, pela empresa Era – Arqueologia, em colaboração com diversas instituições e investigadores, nacionais e internacionais e António Valera, arqueólogo e pré-historiador, é o responsável que coordena as escavações, desenvolvendo trabalhos de direção de campo desde 1985.