25 Dezembro 2020      09:29

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O que significam os símbolos do Natal

Há muitas coisas no Natal sobre as quais já nem se pensa o porquê; chega o início de dezembro e os preparativos começam, como que por automatismo. Mas sabe o significado de muitas coisas que põe em prática no Natal?

Vamos ajudar a desvendar um pouco dessas histórias.

 

A Árvore

A árvore de Natal é símbolo de vida e esperança.

A primeira árvore de que há registo surgiu por volta do século XVI, no norte da Europa, mas terá sido com Martinho Lutero, na Alemanha, que se tornou tradição um século mais tarde, e de aí se espalhou para o mundo.

Mas ainda antes da cristianização do Natal, já existiam árvores enfeitadas e que serviam para comemorar o Yule, o solstício de inverno e será mais um símbolo pagão que acabou cristianizado.

Havia uma celebração ancestral, pré-cristã, que se comemoravam quase do mesmo modo do Natal atual, com casa enfeitadas com ramos verdes, comida, árvores enfeitadas etc. numa homenagem à natureza e com oferendas aos deuses.

Por norma, a árvore de Natal típica é um pinheiro, uma árvore que, apesar do frio, não perde o verde.

Na árvore, cada elemento tem o seu simbolismo, por exemplo as luzes que representam as estrelas e a estrela cimeira, por exemplo, representando a Estrela de Belém.

Várias são as religiões que têm a árvore como símbolo pois são um símbolo da história do Génesis, o início.

A árvore de Natal, é a árvore da vida e do renascimento e este é simbolismo que acontece também na cultura árabe, nomeadamente com o cipreste que, de acordo com a antiga mitologia iraniana, é mesmo uma das árvores que permite alcançar a eterna juventude.

 

As bolas

As bolas surgem no Natal em substituição das frutas, que eram penduradas em vários locais simbolizando abundância. Normalmente, estes frutas eram comidas pelas crianças, um pouco como os chocolates nos dias de hoje.

Terá sido num ano de piores colheitas e que a fruta escasseou que um artesão terá feito umas bolas de vidro para as imitar.

Já nas culturas ancestrais árabes se enfeitavam os ciprestes com romãs, um pouco à imagem do que se faz hoje com as bolas, um elemento decorativo que não falta em nenhuma casa.

 

Os sinos

Os sinos tocavam em cada povoação sempre que acontecia alguma efeméride que se devia assinalar ou em caso de emergência. Neste caso, foi o nascimento de Jesus que terá sido a razão para fazer tocar os sinos.

Tornou-se um elemento de decoração nas árvores, portas etc. e continua a tocar na Missa do Galo para celebrar o nascimento de Jesus.

Deu origem a várias músicas como "Toca o sino pequenino, sino de Belém. Já nasceu Deus menino para o nosso bem".

 

As velas

As velas de simbolizam a fé, a luz de Cristo, a luz de Belém, que ilumina a humanidade. Generalizou-se após na Alemanha colocar velas à janela para servir de farol aos viajantes, mas este usa das velas, do fogo, é muito mais antiga e está também relacionado com a celebração do solstício de inverno e na “vitória da luz sobre as trevas”, sendo que o fogo simboliza a vida e está também relacionada com a celebração do Sol.

Os escandinavos celebravam o Yule, o dia em que a Criança do Sol renasce, a data que assinala o retorno de toda uma nova vida através do amor dos Deuses. No Yule, o fogo é o elemento central, símbolo da luz e de vida, e faziam-se também fogueiras comunitárias, tudo para iluminar a noite mais escura do ano, marcado pelo fenómeno astronómico do solstício de inverno.

 

O presépio

O presépio pretende ser uma representação do cenário do nascimento de Jesus, embora existam ainda muitas dúvidas sobre o local de nascimento, pois passagens da Bíblia só descrevem a chegada de Maria e José a Belém, após uma viagem a que foram obrigados para participar num recenseamento, e revela a não existência de um único quarto, uma única casa, onde José e Maria – grávida - pudessem descansar, não se sabendo se Jesus nasceu realmente numa manjedoura, como conta a lenda, ou numa gruta, supostamente localizada hoje na Igreja da Natividade, em Belém, como celebram os judeus.

Terá sido no séc. XIII, na noite de Natal, em 1223, que terá surgido o primeiro presépio, pela mão de Francisco de Assis que quis mostrar aos fiéis como teria nascido Jesus e que terá organizado um presépio vivo numa gruta da cidade italiana de Greccio.

Deste acontecimento terá surgido uma lenda e que dava conta que este bebé que representava Jesus se terá tornado no verdadeiro Jesus, um milagre que o renomeado pintor Giotto terá retratado num dos afrescos da Basílica de São Francisco de Assis, já no final do século XIII.

No entanto, o espanhol Antonio Basanta, vice-presidente e patrono da Fundação Sánchez Ruipérez, e dono de uma das maiores coleções de presépios do mundo, com cerca de 25.000 peças, num artigo da edição brasileira do “El País”, revelou que, para a realização desta dramatização, Francisco de Assis terá pedido uma autorização papal, uma vez que os presépios estariam proibidos por haver elementos pagãos nos pastores, o que faz acreditar que já existiam antes.

Seja de que modo for, o presépio passou a ser feitos nas igrejas e alastrou-se depois às casas das famílias e até a locais públicos comuns.

Três figuras são essenciais nesta representação: Jesus, Maria e José, sendo que é habitual surgirem a vaca e o burro, os Reis Magos, anjos, pastores, ovelhas, e outras figuras representando diversas profissões e, por vezes, também a estrela de Belém tem o seu espaço.

O presépio simboliza a união do divino com o terreno, afinal reúne pessoas, animais e a figura de Deus.

 

 

Os anjos

Os anjos têm o papel de mensageiros e terão sido eles que anunciaram o nascimento de Jesus.

Reza a lenda que todos conhecem, que terá sido o anjo Gabriel a aparecer a Maria a anunciar-lhe que daria à luz, Jesus, o salvador. São mais uma imagem de mistura entre o humano e o divino.

 

As estrelas

A chamada Estrela de Belém e que teria guiado os Reis Magos até Jesus, pode até nem ter sido uma estrela e pode ter sido o fenómeno astrológico que este ano se verifica também, e que tem a ver com a aproximação entre Júpiter e Saturno.

Seja de que modo for, foi seguindo esta “estrela” que os Reis Magos chegaram até Jesus e, também aqui, os céus serviram de orientação e guia.

 

Os Reis Magos e os presentes

E se os reis magos nem sequer fossem reis? Existe na Bíblia referência a “sábios” que viajaram do Oriente ao seguir uma estrela cadente; ao longo dos anos os erros na tradução podem ter criado a falsa ideia de que seriam reis, quando na realidade terão sido sábios, conhecedores de astronomia.

No entanto, o cenário de reis terrestres e pagãos a submeterem-se à figura de Jesus seria uma imagem forte no que respeita à afirmação da doutrina religiosa, e daí poder ter sido mais promovida.

O mais provável é até que nem sequer fossem só três, mas este número era perfeito para representar as raças de todo o mundo: Belchior ou Melchior, descendente de ‘Jafé’, representava a raça europeia; Gaspar, descente de ‘Sem’ representava a raça asiática e Baltasar, que descendia de ‘Cam’, representava a raça africana, ou seja, todos descendiam dos 3 filhos de Noé.

Os 3 eruditos ficaram gravados na História num momento denominado como “Epifania”, patente no Evangelho de Mateus, e traziam presentes: ouro, que simboliza a realeza; incenso, simbolizando a divindade; e mirra que representava o humano de Jesus. Além do simbolismo, há mais: o ouro seria uma garante de condições para a vida de Jesus, a mirra e o incenso são medicinais, podendo servir para ser usadas como repelente de insetos e serpentes, curar feridas ou até para aliviar dores no corpo.

Pode ter estado aqui o início da tradição da troca de presentes, que, em muitas culturas se dá só dia 6, como em Espanha, ou nos países católicos ortodoxos.

Acredita-se que os restos mortais dos reis magos estão na Catedral de Colónia, na Alemanha, pois ter-se-ão dirigido para Europa depois de ver Jesus para evangelizar.

 

O Pai Natal

Além dos Reis Magos, também esta figura está diretamente relacionada com os presentes.

Embora se ligue logo a figura do Pai Natal à Lapónia, às renas e ao frio, foi na região da atual Turquia, em Mira, que viveu Nicolau, o bispo que foi santificado – reza a história que ressuscitou três crianças - e que terá sido a origem da figura do Pai Natal atual.

Nicolau tinha por costume deixar moedas junto às chaminés de pessoas mais necessitadas, numa representação de generosidade que é pródiga e maximizada na época natalícia.

O modo como a figura se modificou até hoje terá sido fruto até de campanhas publicitárias da marca norte-americana Coca-Cola, que mudou os trajes, habitualmente verdes de Nicolau, para vermelho e branco, as cores da marca.

Para várias correntes do cristianismo, o Pai Natal é um símbolo pagão. Facto é que a economia moderna, muito marcada pelo consumismo, o transformou num símbolo mais comum que o próprio Jesus.

A figura de um velhote, gordo, de longas barbas bancas surgiu publicamente em 1920 num anúncio da Coca-Cola, numa criação do Thomas Nast, e passou a ser figura usada pelos ilustradores contratados pela marca com regularidade. Após algumas variações, incluídas as cores dos trajes, foi em 1931, pelo artista Haddon Sundblom que tomou as formas e cores de hoje. O artista plástico ter-se-á inspirado no poema “A Visit From St. Nicholas” de Clement Clark Moore, e teve por base figuras de S. Nicolau.

 

Curiosidade: sabia que o Natal esteve proibido na Grã-Bretanha durante 16 anos?

O protestantismo uma corrente cristã, mas que defende a iconoclastia, ou seja, é contra a representação de figuras sagradas. Ora, o Natal como o conhecemos, ronda muito em torno destas figuras. Sendo, na sua maioria, os países que fazem parte da Grã-Bretanha protestantes, o Parlamento britânico proibiu o Natal em 1644 por ver nele mais paganismo que religião. Só em 1660 foi restaurado.

Esta proibição coincidiu com a colonização da América do Norte, onde o Natal também esteve proibido, nomeadamente em Boston, entre 1659 e 1681, embora razões de ordem e segurança pública também tenham influenciado a proibição, uma vez que o consumo exagerado de álcool na época levava a tumultos e desacatos.

Durante o século XX, o Natal foi crescendo em importância e relevância social e com a sua generalização nos Estados Unidos ganhou ainda maior relevo, não só marcado pela influência económica, mas por uma situação ritualística que o sociólogo e antropólogo francês Claude Lévi-Strauss descreveu como “O Suplício do Pai Natal”. Segundo esta teoria o Natal teve um especial relevo social devido “à função prática dos rituais de iniciação”, visto que se pretende demonstrar e ensinar que as boas ações têm recompensas, e que há presentes e ganhos que surgem a câmbio de bom comportamento.