7 Maio 2022      10:46

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O que se passa com o PCP?

Por António Costa da Silva

A posição do PCP em relação à invasão russa na Ucrânia tem sido bastante estranha. O PCP entrou num beco sem saída, por sua livre e inteira responsabilidade. Não podem culpar os outros.

Ora vejamos, o PCP ignorou totalmente o foco desta guerra: a invasão russa à Ucrânia. As justificações do PCP, quando referem o papel da NATO e o papel dos Estados Unidos da América na guerra, não fazem qualquer sentido. Estamos a fugir ao foco das responsabilidades do invasor. Aqui o invasor é a Rússia.

Quando o PCP justifica a história dos últimos anos da Ucrânia, onde foi proibido o Partido Comunista, mais uma vez não estão a falar da invasão da Ucrânia. Quando o PCP se refere ao regime ucraniano como não recomendável, estamos novamente a fugir ao foco da questão (a invasão russa).

Para ser mais claro, não foi o povo russo quem espoletou a invasão na Ucrânia, mas sim o regime russo. Mas também não é o regime ucraniano quem está a ser agredido, mas sim o povo ucraniano. Aqui reside a grande diferença moral em toda esta problemática. É o regime russo que merece total condenação.

Por isso mesmo, esta invasão inadmissível da Rússia à Ucrânia não pode ser confundida com outras temáticas.

Quando tentam confundir que não se trata de uma invasão (tal como diz Putin), então deixamos de perceber totalmente o PCP.

O PCP esclarece que não quer a guerra, mas sim a paz. Isso todos queremos. Que não se podem dar armas à Ucrânia, porque aumenta a escalada da guerra. Referem que devemos apenas utilizar a via diplomática. Isso é completamente absurdo! Se não fizermos chegar armas às mãos dos ucranianos, então eles não se vão conseguir defender. E o que vai acontecer? Vamos ficar impávidos e serenos, no meio das nossas refeições diárias, a ver morrer em direto mais e mais cidadãos ucranianos? A ver cidades completamente arrasadas (ainda mais)? A Rússia a entrar pela Europa a atacar mais povos? Essa lógica, sim, seria aumentar a escalada da guerra!

O PCP não esteve presente durante a intervenção do Presidente ucraniano no Parlamento português. Paula Santos, líder parlamentar do PCP, disse que Volodymyr Zelensky “personifica um poder xenófobo e belicista rodeado e sustentado de forças de cariz fascista e neonazi”. Já nem sei o que diga!

O PCP entrou num beco sem saída. Curiosamente, parece que não quer sair de lá!

Quando referem que esta é uma guerra igual a outras guerras, também não é verdade. Para os que sofrem, evidente que é. Mas esta é uma guerra na Europa, em que estamos perante a invasão de um estado soberano (coisa impensável para os europeus). Não é uma guerra civil ou golpe de estado. Esta é semelhante a uma guerra «medieval», de ocupação de territórios. Também é uma guerra diferente, porque o invasor tem um manancial de amas atómicas gigantesco. Estes elementos tornam a guerra na Ucrânia bem diferente de outras guerras.

Evidentemente que devemos aceitar as opiniões diferentes. É verdade que nos tempos atuais, com a pressão da comunicação social e a velocidade com que as informações circulam nas redes sociais, é difícil pensar ou ser diferente. Por isso mesmo, não podemos aceitar tudo como verdade.

Mas aqui a coisa é diferente. Poderia aceitar a posição do PCP se começasse por condenar a invasão russa à Ucrânia. Concordando, ou não, certamente os restantes argumentos poderiam fazer mais sentido.