13 Setembro 2016      20:15

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O PROFESSOR: ESTE CONCURSO NÃO É PARA VELHOS

Das duas, uma: ou isto deve levar uma volta ou está tudo bem e esta crónica não tem qualquer razão de ser. Falo do concurso dos professores, esse momento indescritível para aqueles que têm alguém ligado à classe docente. O final de agosto deste ano voltou a ser esse momento, de incerteza e insegurança, de expectativa e nervosismo, de fé e angústia. Mas cá estamos, em setembro, e no pior dos cenários só voltamos a sofrer em agosto do próximo ano.

A contratação inicial de professores, o momento central de afectação, da oferta à procura, nos docentes da Escola Pública tem uma complexidade tal que é impossível de ser resumida ou explicada num curto texto, para além de que eu estou longe de possuir tais capacidades. Para além deste momento de contratação inicial, a partir deste momento todas a semanas sairão novas listas – Reserva de Recrutamento – onde os professores podem ver a sua sorte mudar. Este concurso supostamente é simples, tem por base 3 ou 4 critérios e seleciona, mediante a manifestação de preferências, escolas que disponibilizaram horários para uma disciplina desse docente. Até aqui tudo bem, o problema é que o sistema passou a ter, não só concursos paralelos, mas também diversas condicionantes que obrigam, por exemplo, os professores a concorrerem a escolas que não desejariam.

Como familiar de professores, sofro na pele e partilho as suas angústias e era essa reflexão que aqui queria trazer: das famílias que ficam separadas – ano após ano – pela colocação de um elemento a centenas de quilómetros de casa, de filhos que crescem sem um dos pais presente e outras histórias que se repetem no mundo dos Professores. Bem sei que isto não se passa só na Educação mas aqui assume contornos diferentes, por, em muitos casos, se verificar todos os anos e sobretudo durante mais tempo (existem professores com mais de 15 anos de experiência que ainda são contratados).

Ainda assim há a reconhecer que este governo tem procurado ter uma postura diferente. Ainda mais valorizo isso quando a pessoa que ocupa esta pasta tem pouca experiencia política e governativa mas no entanto já demonstrou ter uma grande sensibilidade e respeito por todo o universo educativo. A título de exemplo este ano a DGAE passou da atitude de “desconfiar” dos professores para ações de Boas Práticas, enviando um “e-mail a todos os candidatos à contratação que não tinham submetido as preferências no último dia do prazo para se lembrarem de o fazer”. No entanto há um grande caminho a percorrer na vinculação de professores – que se devia equiparar à restante administração pública – e nos prazos de colocação e anúncio das listas. Uma coisa simples e que fazia toda a diferença: passar a ser anunciado o dia da colocação de professores, que tem possibilidades até de ser antecipado, mas que deve acima de tudo estar balizado como forma de respeito por todos os “concorrentes”.

Mas este gigantesco sistema precisa sobretudo de uma coisa: Estabilidade. Estabilidade no pessoal docente. Estabilidade nos currículos. Estabilidade e confiança no sistema. Tiago Brandão Rodrigues que viu a sua popularidade crescer e viu também a sua ação política reforçada por uma esmagadora maioria (78%) dos portugueses que apoiou a decisão do governo no caso dos contratos de associação de Escolas Privadas. Este reforço poderá dar a estabilidade e tranquilidade que o setor necessita. Também os partidos que sustentam o governo têm aqui uma palavra importante, na construção do modelo de Escola Publica que queremos para os próximos 10 anos. Os partidos da oposição, cada vez mais partidos do contra, têm dois caminhos: contribuir de forma construtiva para esta realidade ou ignorarem de vez que a Educação necessita de pactos alargados em favor da sua sustentabilidade e qualificação.

Posto isto, acima de tudo, queria desejar a todos os professores um excelente ano letivo.