12 Janeiro 2019      16:45

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O presidente que se tornou rei do absurdo

Era uma vez um presidente que queria ser rei do absurdo; selfie atrás de selfie, entrevista atrás de entrevista, abracinhos e beijinhos:tudo isto não bastou. Mas o presidente era esforçado nesta sua vontade de ser rei do absurdo e chegou o dia que ligou à Cristina, em direto, no seu novo programa de TV, e assim conseguiu sê-lo.

Dito assim, desta forma nua, crua e desprovida de explicações, parece ainda mais absurdo, mas esta foi a realidade nacional: Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República Portuguesa - o mesmo que deu um abanão tremendo em Trump, o mesmo que tem uma reconhecida capacidade intelectual, que tem opinião sobre tudo e é omnipresente - ligou à Tininha, na estreia do seu programa num canal privado.

Disse o filósofo e político irlandês Edmund Burke que “É um erro popular muito comum acreditar que aqueles que fazem mais barulho a lamentarem-se a favor do público sejam os mais preocupados com o seu bem-estar.” – começo a desconfiar que, após o êxtase nacional em redor desta nova forma de estar – Cavaco era 8, Marcelo é 80 – não haverá muito mais além da manutenção em alta da popularidade do presidente, pese quanto pesar na instituição que representa.

Não colocando em causa as amizades que possam existir, ou outras circunstâncias, se queria fazer o telefonema Marcelo deveria tê-lo feito no recato do seu telefone pessoal, mas não; Marcelo usufrui da sua posição de Presidente da nação para o fazer ao vivo e em direto para todos os que assistiam, ajudando assim na batalha dos shares, das audiências e do ridículo nacional ao ajudar à tentativa de criar uma “Oprah Winfrey” nacional a martelo.

Não terá o Presidente do meu país nada mais importante para fazer? Serei só eu a sentir – como já ouvi – “uma forte sensação de vergonha alheia”?

A capacidade intelectual e o nível cultural de Marcelo são ímpares e não estão em questão, mas isto faz-me ainda mais pensar no que move o presidente; que se esconde nestas suas movimentações que deixam o nível popular – que pessoalmente tanto gosto - e descem ao popularucho?

Que esteja em presente em Pedrogão, no acidente de elétrico, em Borba etc. é compreensível. Que depois o faça de um modo “pop-star” já não, que apareça agora num daqueles programas que cultiva interesses dissonantes daquilo que são funções sociais da comunicação social – informar e educar - já não percebo.

Não. E nunca do ponto de vista institucional como fez, até por questões de igualdade: e se o Jorge e a Sónia, da televisão pública, agora se queixarem e fizerem birrinha? Vai ligar-lhes?

A justificação dada de que um telefonema “era o mínimo.” torna-se ela própria ainda mais ridícula! Se Marcelo continua nesta sua ânsia provinciana de protagonismo e desata a ligar para todos os programas, ainda corremos o risco de o ouvir na RFM a concorrer ao “Que barulho é este?” ou que lhe seja sorteado qualquer coisa naqueles programas de domingo à tarde.

É importante que Marcelo perceba que não é o pai da nação, e muito menos o "bff" (best friend forever - o melhor amigo de sempre) -  e que relembre de quando em quando das suas funções; bater o record do Guinness de aparições públicas ou selfies não constarão desse rol. 

Estará já em campanha ou este “Marcelo show” tem outras intenções?

Na boa imagem e consideração que tenho de Marcelo, esta “cena” belisca-as de morte. Temo que “belisque” também a imagem nacional daquilo que deverá um Presidente da República e que, claramente, não é mandar recadinhos a outras instituições via comunicação social, nem ligar a apresentadores de TV em busca de subir (ou fazer subir) a popularidade.

Nem tudo deve ser espetáculo social e ser Presidente da República não é gerir uma página de Facebook ou ser "youtuber" numa caça constante aos likes.

 

Imagem de static.noticiasaominuto.com

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