O ano de 2025 pode vir a ser um ano peculiar. Para além do cenário global ser bastante incerto e com várias ameaças, no nosso cantinho iremos ter, provavelmente em setembro, as eleições autárquicas.
E como se costuma dizer na gíria, tudo começa a aquecer. É tempo de contar espingardas. Porém, passados 50 anos de democracia, há por vezes sinais um pouco assustadores sobre a ausência de valores que supostamente deveriam ter sido herdados da Revolução dos Cravos.
É inquietante perceber que certos hábitos do período pré e pós revolucionário teimam em não deixar de estar presentes no nosso quotidiano. Não querendo entrar em lamúrias, teorias da conspiração ou falsas vitimizações, constato que não aceitar as diferenças em termos de posicionamento político ou ter ódio, raiva, incómodo e desconfiança por quem desempenha cargos públicos continua a ser o pão nosso de cada dia. Parece que para alguns, há um espinho na garganta que teima em não ser digerido.
Sabemos que, hoje em dia, os eleitos são olhados com desconfiança e quase nunca se consegue separar o trigo do joio. Há o bom e o mau, em todo o lado. As efémeras vitórias eleitorais deixam por vezes uma azia que se prolonga no tempo e que em alguns casos, teima em tornar-se crónica.
Quando se avança para uma disputa eleitoral, há quem ganhe, há quem perca e muitas vezes, quem perde pode um dia vir a ganhar. O tempo tudo transforma e tudo pode mudar. A realidade é esta e há que aceitá-la com naturalidade. A vida é assim!
Quando se está a exercer funções, são tomadas decisões todos os dias, que agradam a uns e desagradam a outros.
Há sempre quem fique descontente, se sinta injustiçado, revoltado ou com a sensação de que faria melhor, se estivesse a desempenhar funções políticas. A democracia deu-nos essa grande conquista, que parece por vezes um pouco deturpada. A de cada um poder expressar a sua livre opinião e manifestar a sua crítica, apresentando alternativas e propondo novas soluções.
Mas há muitas formas de manifestar o descontentamento, sem cair na destruição de bens públicos ou nas ofensas de caráter pessoal.
Conforme referi, os meses que decorrem até às eleições são o tempo certo para formar equipas, montar estratégias, conhecer os diferentes problemas e participar ativamente na vida das comunidades. Porém, muitos só o fazem nas vésperas dos momentos eleitorais autárquicos. Só começam a “sair da toca” quando cheira a eleições. Tudo isso é natural, legítimo e compreensível.
Porém, em Vila Viçosa, nos últimos tempos, a ocorrência de certos fenómenos tem demonstrado a falta de civismo e o incómodo de alguns relativamente ao trabalho que o executivo municipal tem vindo a desenvolver.
Podem alguns dizer que não há relação direta entre os atos de vandalismo que tem vindo a ser praticados e o momento eleitoral que se aproxima. Mas a sucessão de casos estranhos, bizarros e danosos para o erário público leva a que as suspeitas sobre atentados ao património, com uma motivação muito específica, sejam cada vez mais consistentes.
E de que falo?
Da destruição consecutiva de sinais de trânsito, da queimadura propositada do relvado sintético do campo de futebol (um investimento de cerca de 200 000 euros) com acetona, riscos propositados feitos de madrugada em viaturas privadas e públicas ao serviço dos eleitos e funcionários, dejetos, urina e animais mortos deixados à porta de casa de quem todos os dias vai exercer as funções para as quais foi eleito, para além das cartas anónimas com ameaças, deixadas na caixa do correio quase a diário.
Um dos últimos episódios foi o derramamento de gasóleo em algumas das artérias que tem vindo a ser intervencionadas, provocando a corrosão do alcatrão recém-colocado.
Ou seja, são demasiados episódios em simultâneo que levam ao agudizar das suspeitas. Não são atos isolados de “jovens irreverentes”, ao contrário do que muitos querem fazer transparecer.
Ainda muita tinta vai correr até setembro. Espero que haja bom-senso e que, apesar das diferenças, não nos deixemos levar por formas absurdas de as demonstrar, destruindo bens e projetos que são de todos!