6 Julho 2018      10:37

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O Pecado Original

Um filósofo da política defendeu, numa entrevista, que o liberalismo económico, que teve o seu berço na forte política de liberdade dos mercados de Margaret Thatcher, é o responsável principal pela degradação do sentido de sociedade que assenta na ideia de comunidade solidária.
 
A ideia tem por base a construção de um certo espírito de competição em detrimento de um espírito de entreajuda e de cooperação que têm âncora nas regras básicas do mercado desregulado (ou livre para alguns): a lei do mais forte! Muitos dirão que esta é uma análise simplista e que a vida é muito mais complexa do que estou a querer interpretar de uma simples resposta numa entrevista de alguém de quem não me lembro o nome. Eu julgo que não estou a exagerar, mas ainda assim vou tentar explicar a minha interpretação.
 
As sociedades colaborativas com forte sentido de solidariedade talvez sejam uma utopia de esquerda, tenho orgulho em dizer que é minha utopia também, têm por base a ideia de redistribuição da riqueza gerada no sentido de não deixar ninguém para trás. É possível que esta modelo tenha a condicionante de que nunca será gerada muita riqueza para redistribuir pois não deixar ninguém para trás, por princípio, implica ir mais devagar. Há quem diga que devagar se vai ao longe!!
 
Já as sociedades assentes no liberalismo, diria radical, assumem que a liberdade de criação de riqueza, sem a preocupação de redistribuir e/ou de não deixar ninguém para trás, permitirá uma criação tal de riqueza que, certo dia, todos beneficiarão com ela. Este impulso assente na ideia de oportunidade de nos concretizarmos (termos sucesso) individualmente é muito apelativa e, vista de nós próprios enquanto ser humano individual, não nos merece nenhum reparo aparente.
 
O problema destes dois lados opostos assenta, em termos de argumentos, na acumulação, ou não detenção, de rendimento e/ou capital. Até onde vai a acumulação de riqueza em poucos que, finalmente, permita que todos beneficiem? Até onde vai o controle público (coletivo) que não admita a expressão criativa do individuo, que a todos pode beneficiar?
 
Eu, pessoalmente, acho que nós deveríamos assentar os argumentos de analise comparativa naquilo que é também básico e que são os laços e as relações que estabelecemos com o outro enquanto pessoas parte de uma comunidade ou sociedade. Mas, adiante…
 
Os impulsos de globalização e da liberdade económica geraram grandes convulsões sociais e económicas, geraram crises e também geraram momentos de exponencial crescimento económico. Muitos dizem que é a ganância e outros dizem que é o impulso criativo da humanidade que vai gerando estes desequilíbrios que, posteriormente, conduzem a alguns equilíbrios. Tudo se faz com euforia, mas também com muita dor e sofrimento.
 
Talvez devêssemos prestar mais atenção é metáfora excecional do dito pecado original e assumirmos (estou a brincar) que tudo isto teve uma primeira vez quando a ganância de comer uma simples maçã (é certo que era proibida) nos expulsou do paraíso…
 
Na verdade, o que eu queria escrever nesta crónica, é que temos hoje um mundo e uma europa em particular, filhos de um forte liberalismo económico e que deixou muitos, mesmo muitos, para trás. Este facto que tem vindo a gerar expressões muito perigosas de populismo e de radicalismo xenófobo. Não estamos a conseguir, povos europeus, ser solidários uns com os outros e temos, inexplicavelmente, medo do outro. Este estado de coisas incute um medo coletivo sobre o nosso futuro individual e explica bem a razão de estarmos a rejeitar aqueles que nos batem à porta, que querem entrar na nossa casa, mesmo sabendo nós que precisamos urgentemente deles.
 
Também queria escrever que, esta semana, o líder da bancada parlamentar do partido que suporta o governo, no início da semana, comunicou uma intenção de investimento para o Baixo Alentejo que veio mais tarde (dois dias depois) a ser confirmada e reforçada pelo ministro que tutela a concretização dessa e de outras intenções referidas no início da semana. Tudo ótimas e esperadas notícias, sim, mas o que se passou na comunicação social local entre os dois dias foi um exemplo claro do resultado do liberalismo económico. Não digo porquê, deixo este desafio à vossa imaginação!!!

 

 

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