O Mú

Hoje não é nenhum dia especial. Muitas coisas certamente terão ocorrido neste dia, em cada um dos anos que antecederam este especificamente e tantos outros dias o sucederão no futuro. Não é dia nenhum, salvo algo aconteça que faça mudar o evento.

Porém, este texto não é sobre o dia 4 de março. Poderia ser, mas não é. É sobre o Mú! Ah…

Entre vós, quem sabe o que é o Mú? Espero pra vossa resposta antes de a escrever aqui neste breve trecho?

Pois bem, já que ninguém respondeu…o Mú é o segundo ponto mais alto da Serra do Caldeirão, no sul de Portugal. Fica no fim do Alentejo, apanhando ainda uma pontinha do Algarve… mas o Mú tem uma personalidade própria. Cada vez que por lá passamos, o Mú diz-nos os caminhos a seguir.

Nascido e criado nesta serra, não sei por onde começar a contar-vos as minhas histórias e as minhas experiências.

Desde pequeno que vi o Mú, tão longe e tão perto. Quantas vezes passei, meio a dormir, naquelas carrinhas da câmara que me apanhavam às 6 da manhã. Aquele percurso era sempre o mesmo.

Não me arrependo de o ter feito, ainda agradeço todas as vezes em que o percurso me levou à escola e a chegar ao momento onde estou hoje, fruto desse sacrifico da altura. Não me arrependo e agradeço.

Não seria hoje quem me tornei profissionalmente, ou academicamente, sem conhecer o percurso de sair da zona de conforto, de passar semanas longe da família, de ter regras, de saber a diferença entre o dado e o ganho.

Não foi o Mú que me ensinou tudo isto. Não foi o Mú aue me tirou do seio familiar, para ir todos os dias à escola.

Mas, ainda hoje, todos os momentos em que fisicamente passo pelo Mú, não posso deixar de pensar naquilo que este monte abrange, no que vê e não nos conta, e, além de tudo, quantas vezes já me viu passar ao seu lado e sentiu os meus pensamentos.

O Mú é o monte mais alto da minha freguesia e sabe quase tanto da minha vida quanto eu… e casa vez que passo por ele, com a sua autorização, cumprimento como se um grande amigo fosse.

Afinal, já nos conhecemos desde que nasci!