21 Janeiro 2022      14:50

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O miradouro da recompensa

Ao subir o pequeno monte que a planície erguia,

fitava a linha que separava o céu do chão.

 

As minhas pernas, cansadas,

espelhavam a incerteza

sobre a recompensa

no final da imponente subida.

Quanto maior a inclinação do monte

mais os pés sentiam,

mais o coração sonhava.

 

Que prémio me esperava?

Sentia a confiança

de um ciclista de montanha

e trazia a certeza

de que um terreno no Alentejo

nunca poderia ser tão inclinado

como uma montanha

nos Alpes franceses.

 

Durante a subida,

ziguezagueava as oliveiras alinhadas

como pinos numa aula de educação física.

Os bocados de terra lavrada,

maiores do que pedras da calçada,

desfaziam-se a meus pés.

Até o vento soprava a meu favor.

 

Quando enfim alcancei o cimo do monte,

escutei o silêncio e senti os grilos;

coelhos ou lebres espreitavam, a medo,

por entre os aglomerados barrocais.

 

Subitamente virei-me

e assisti à imensidão do final de tarde

em tons de castanho, lilás e azul-noite.

As oliveiras, carregadas

de pássaros cantantes

à espera da pernoita,

mais pareciam brócolos

tal não era a beleza do momento.

 

E eu,

(que por tanto pensar continuava de pé),

quando finalmente me sentei na terra,

acolhi o meu prémio:

Ser um felizardo grão de pó

que o vento carregou

ao cimo do Miradouro da Recompensa.

 

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Ricardo Jorge Claudino nasceu em Faro em 1985. Actualmente reside em Lisboa. Mas é Alentejo que respira, por inigualável paz, e pelos seus antepassados que são do concelho de Reguengos de Monsaraz. Licenciado em Engenharia Informática e mestre em Informação e Sistemas Empresariais pelo Instituto Superior Técnico de Lisboa. Exerce desde 2001 a profissão de programador informático. Também exerce desde que é gente o pensamento de poeta. www.claudino.eu