Ao subir o pequeno monte que a planície erguia,
fitava a linha que separava o céu do chão.
As minhas pernas, cansadas,
espelhavam a incerteza
sobre a recompensa
no final da imponente subida.
Quanto maior a inclinação do monte
mais os pés sentiam,
mais o coração sonhava.
Que prémio me esperava?
Sentia a confiança
de um ciclista de montanha
e trazia a certeza
de que um terreno no Alentejo
nunca poderia ser tão inclinado
como uma montanha
nos Alpes franceses.
Durante a subida,
ziguezagueava as oliveiras alinhadas
como pinos numa aula de educação física.
Os bocados de terra lavrada,
maiores do que pedras da calçada,
desfaziam-se a meus pés.
Até o vento soprava a meu favor.
Quando enfim alcancei o cimo do monte,
escutei o silêncio e senti os grilos;
coelhos ou lebres espreitavam, a medo,
por entre os aglomerados barrocais.
Subitamente virei-me
e assisti à imensidão do final de tarde
em tons de castanho, lilás e azul-noite.
As oliveiras, carregadas
de pássaros cantantes
à espera da pernoita,
mais pareciam brócolos
tal não era a beleza do momento.
E eu,
(que por tanto pensar continuava de pé),
quando finalmente me sentei na terra,
acolhi o meu prémio:
Ser um felizardo grão de pó
que o vento carregou
ao cimo do Miradouro da Recompensa.
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Ricardo Jorge Claudino nasceu em Faro em 1985. Actualmente reside em Lisboa. Mas é Alentejo que respira, por inigualável paz, e pelos seus antepassados que são do concelho de Reguengos de Monsaraz. Licenciado em Engenharia Informática e mestre em Informação e Sistemas Empresariais pelo Instituto Superior Técnico de Lisboa. Exerce desde 2001 a profissão de programador informático. Também exerce desde que é gente o pensamento de poeta. www.claudino.eu