17 Setembro 2016      11:27

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O GOVERNO E A NARRATIVA DA MENTIRA

"PENSAMENTOS POLÍTICOS"

Este Governo é especialista em tentar criar situações de puro ilusionismo político. Muitos são os exemplos que podem ser apresentados, mas não há nada melhor do que ilustrar com factos, evitando assim a terrível narrativa da mentira.

Nesta crónica apresento duas situações no distrito de Évora, as quais reflectem uma realidade muito mais vasta, que atingem milhares de famílias.

Apresento dois exemplos de falhas muito graves por parte do Estado: um na área da Saúde e outro na área da Educação

 

Caso 1 – Falta de Enfermeiros no Hospital Espírito Santo em Évora (sobretudo no Serviço de Obstetrícia/Ginecologia)

Recentemente um grupo de enfermeiras do Hospital Espíriro Santo em Évora colocou um conjunto de preocupações que merecem uma resposta por parte do Governo. Solicitam a actuação necessária e de acordo com os problemas que a seguir são identificados, mais concretamente no Serviço de Obstetrícia/Ginecologia do Hospital:

Mais concretamente, o aumento do volume de trabalho, associado às necessidades específicas das utentes alvo dos cuidados por parte da equipa de enfermagem daquele serviço, não tem sido acompanhado de um reforço de elementos da equipa, muito pelo contrário, a equipa foi reduzida. No limite, estes factos traduzem-se na diminuição da disponibilidade para apoio prestado às utentes bem como na saída depois da hora, sem que esse tempo seja sequer recompensado em tempo ou em dinheiro. Mas a qualidade dos cuidados prestados não foi influenciada negativamente, deve-se à equipa que diariamente se rege pelos princípios do profissionalismo, perfeccionismo e ética profissional.

De acordo com a informação prestada pelas enfermeiras, expõem-se abaixo, em resumo, os factores que mais contribuem para o panorama atual:

- Sobrecarga de horas de cuidados diretos necessários, relativamente ao número de elementos escalados por turno;

- Sobrecarga de trabalho administrativo, inerente à utilização dos vários sistemas informáticos exigidos; devido às exigências crescentes em termos de registos informáticos, são obrigados a passar mais tempo ao computador do que junto das utentes fazendo aquilo que fomos contratados para fazer: cuidar o outro. A relação de ajuda e o cuidado às utentes e famílias fica claramente prejudicada quando em vez de apoio emocional e ensino para a saúde têm de fazer registos informáticos, usando vários programas para quase fazer a mesma coisa.

- Número de horas de trabalho largamente superior ao previsto por lei - Cada elemento em funções faz em média entre 160-180 horas mensais, ao invés das 140H previstas para a classe e ainda assegura turnos extraordinários quando solicitados, por falta de elementos imprevista;

- Decorrente do ponto acima, a exaustão física e psicológica revelada pelos elementos da equipa de enfermagem; Além disso o Serviço apresenta atualmente uma taxa de ocupação elevada (no período de 1 de Julho de 2015 a 31 de Julho de 2016 foi de 84,21% de Obstetrícia / Grávidas Patológicas e de 51,47% de Ginecologia) e as camas extintas teoricamente são frequentemente activadas quer por necessidade do serviço, quer por necessidade de admitir utentes de outras especialidades;

- Redução do número de elementos, distribuídos para a enfermaria, no turno da manhã (um dos períodos de trabalho mais exigente quer em termos de prestação de cuidados directos, quer em termos de volume de trabalho administrativo);

- O acompanhamento das grávidas ao Bloco Operatório central para realização de cesariana eletiva/urgente/emergente a cargo da enfermeira especialista, acompanhado da prestação dos cuidados imediatos aos recém-nascidos, provocam um gasto importante do tempo disponível. Importa realçar que nesse período de tempo, por vezes demorado (a realização da cesariana depende da disponibilidade da sala cirúrgica e dos profissionais do Bloco Operatório) fica um elemento sozinho na Sala de Partos a assegurar todos os cuidados necessários. O serviço dispõe de uma sala cirúrgica - Bloco Operatório Materno-Infantil - pronta a funcionar 24/24H mas apenas é utilizada para realização de Cesarianas e Cirurgia Ginecológica se existirem profissionais do Bloco (Anestesista e Enfermeiros) disponíveis para assegurar o funcionamento desta sala, à parte do funcionamento do Bloco Central;

- A requisição frequente de elementos para acompanhamento de Alunos da Licenciatura em Enfermagem e da Especialização em Enfermagem de Saúde Materna e Obstetrícia que, estando em processo de formação clínica, necessitam a adequada disponibilidade durante o processo de aquisição e avaliação de competências

- A presença constante de pessoas, estranhas ao serviço, a quem é necessário orientar e organizar para que a prestação de cuidados não venha a ser afectada;

De acordo com a informação que fizeram chegar, as enfermeiras subscritoras informam que vão tomar as seguintes medidas

- Recusam a manutenção da redução do número de enfermeiros por turno (turno da manhã na Enfermaria);

- Reclamam a admissão de novos elementos para a equipa de enfermagem, como forma de permitir a elaboração de escala de serviço com o numero de horas de trabalho estabelecido por lei bem como a concretização dos direitos previstos na lei (flexibilidade de horário para profissionais com idade>50 anos e lei da parentalidade);

- Declinam no Conselho de Administração do hospital toda e qualquer responsabilidade/consequência decorrentes da insuficiência e/ou efectividade dos cuidados, motivadas pela falta de pessoal e das expostas condições de trabalho.

 

Caso 2 - Falta de assistentes operacionais na EB1 de Arraiolos

Segundo informações dadas pelos representantes de pais eleitos para o Conselho Geral do Agrupamento de Escolas de Arraiolos, existe um grave problema de falta de Assistentes operacionais naquele local de ensino.

Segundo o que é relatado podemos elencar as seguintes situações:

1 - “(…) a referida escola possui no mapa de pessoal três lugares de assistente operacional, em conformidade com a Portaria n.º 1049-A/2008, de 16 de setembro, na sua redação atualista (Portaria n.º 29/2015, de 12 de fevereiro).”

2 – “(…) em virtude de baixa médica de duas das trabalhadoras, daquela categoria profissional, apenas uma se encontra disponível para serviço na escola”.

3 – “A título de exemplo, a referida trabalhadora, tem de assegurar, sozinha, a receção das crianças de tenra idade – dos cinco aos dez anos – encaminhá-las para salas de aula em dois pisos, a limpeza das instalações sanitárias, a limpeza dos espaços comuns, a limpeza e arrumação das salas de aula, efetuar a vigilância das crianças nos intervalos, bem como auxiliar aquelas durante a tomada de refeições.”

Estamos perante uma situação que perturba o normal funcionamento da escola. Para além da extrema dificuldade que a referida funcionária tem para resolver todas as ocorrências, estamos perante uma situação de risco da saúde e a integridade das crianças. Tal como é referido (…) em caso de acidente, a trabalhadora, sozinha, não poderá colocar em marcha o plano de emergência, nem tão pouco acionar os meios de socorro e acompanhar a criança que sofra um acidente ao Centro de Saúde, tal como se encontra protocolado”.

Apesar do reconhecimento do brio profissional e das qualidades pessoais da funcionária em questão, é de todo impossível dar resposta às situações emergentes que possam ocorrer.

Esclarece-se que o Conselho Geral do Agrupamento de Escolas de Arraiolos já recorreu a todos os meios para que este grave problema seja resolvido, inclusive através de ofício enviado ao Sr. Ministro da Educação.

Ora, estando a dar início o novo ano letivo, sem que exista qualquer solução à vista por parte do Estado, torna-se fundamental encontrar uma solução para resolver um problema que afeta toda as crianças daquela Escola e que pode vir a ter consequências muito graves em matéria de segurança.

 

Em resumo, são várias as situações que merecem ser denunciadas. São vários os serviços com grandes carências que nos são ocultados diariamente. São várias as escolas e serviços de saúde com falhas graves de falta de pessoal, e de pagamentos em atraso.

Tentam fazer parecer que cada um dos casos é um mero problema pontual, mas na realidade fazem parte de um problema muito mais generalizado e mais grave.

Resta-nos denunciar estas graves situações.

 

Imagem de http://www.hevora.min-saude.pt