27 Março 2021      10:06

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O Golfinho Galifão

Era uma vez um golfinho nascido na Foz do Sado. Era uma figura meio raquítica quando nasceu. Terá perto de 20 e poucos anos nos dias que correm. Entre o tempo que nasceu e agora que já é um jovem adulto, Galifão, viu a sua vida ser passada entre Tróia e Setúbal, fazendo o que os golfinhos fazem, seja o que é que os golfinhos fazem na adolescência. Vocês sabem o que um golfinho faz na península de Setúbal?

Esta última pergunta é algo que não sei responder. Sei que Galifão era um golfinho e que viajava sempre em conjunto. Sabem que, na adolescência, os humanos e os golfinhos viajam todos juntos e desafiam-se e tentam ser o mais importante da trupe.

Galifão, embora tenha sido uma criança gozada e raquítica pela sua fraca aparência, a partir dos 15 começou a malhar forte no ginásio e tornar-se um excedente entre os seus pares.

Em Tróia, num apartamento que tinha numas Torres que lá havia e cujo nome agora não me recordo. Acho que já não estão por lá.

O sonho de Galifão era ser professor do ensino básico. Quem diria? Um golfinho da península, a nadar fora, a licenciar-se no Magistério e a tornar-se educador, e especialmente de educação física..

Assim foi! Galifão, golfinho do Sado, tornou-se alguém importante. Concorreu aos concursos de professores e ficou colocado numa terra do interior. Ora aqui temos dois problemas. Primeiro, um golfinho a ensinar educação física, e segundo, ficou colocado no interior do país, sem água. A única coisa que lhe valeria era dar aulas de natação.

Como é que Galifão poderia superar a distância do mar, da península? Só nas aulas na piscina! Barbatana acima, barbatana abaixo e la apanhava a camioneta da carreira e lá chegava. Alugou uma casa com piscina. No Alentejo, imagine-se. Pouco tempo passava na sala e no quarto.

Galifão shclock, schlock, lá ia para a escola todos os dias e achava que tinha arranjado o emprego da vida. Tantos anos de ginásio, tantas horas de esforço, tantos quilómetros de andar...água e mais água...

Galifão era feliz. Tinha atingido os seus objetivos. Ser feliz fora da zona de conforto. Porém, depois de anos e anos a trabalhar em

Natação, ficou desempregado nos concursos e foi um balde de água fria. Muita água... mas não a suficiente para hidratar um golfinho.

Galifão, sem trabalho, cheio de malas, despedido em julho, ficou na paragem da camioneta da carreira, à espera do transporte.

Atrasou-se e a camioneta nesse dia não veio. No dia seguinte, à hora que chegou, naquela paragem, estava a pele seca de um golfinho, duas malas e nada mais.

O concurso foi anulado...