6 Agosto 2022      20:31

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O calor e o sentido da vida

O calor destes últimos dias, em pontos transversais do globo tem marcado os nossos noticiários. Principalmente no hemisfério norte, dezenas de canais televisivos somam aberturas de noticiários sobre as elevadas temperaturas, sobre os calores intensos que se fazem sentir, exacerbando a níveis preocupantes os efeitos nefastos das secas que a falta de chuva, aliada a elevadas temperaturas, tem causado.

As ondas de calor intenso, que não dão descanso a quem pouco mais pode fazer do que mitigar os efeitos com uma ventoinha ou a abertura de janelas, aos bombeiros que corajosamente combatem incêndios que surgem do nada, entre origens suspeitas, duvidosas, das quais já nos habituámos a ter poucas dúvidas e a todos os que trabalham debaixo do árduo calor e na imensidão de campos sem uma sombra…trazem à tona da água que teima em desaparecer.

O calor, em oposição ao frio, em alturas do ano diferentes e despertando emoções opostas, levam-nos a pensar no sentido da vida, naquilo que são as nossas emoções mais recônditas, os medos mais prementes que se mantêm escondidos durante climas amenos. O calor é abrasador nestes dias. As ondas invisíveis de calor que são capazes de atravessar oceanos, impedem noites de sono tranquilas. As paredes dos quartos transformam-se em fornos que nos cozem lentamente e nos proporcionam, forçosamente, pensamentos incómodos.

O calor transporta-nos a temperaturas infernais, como se nele estivéssemos a viver, sem tempo de descanso, como se no mesmo Inferno que sentimos, o calor nos lembrasse dos pecados, das coisas que nos atormentam, as que fizemos ou que não fizemos, as que podíamos ter feito de outra forma e as que inconscientemente fizemos e não nos sentimos felizes com o seu desfecho.

O calor, poderemos dizer, acompanha paralelamente pensamentos sobre o sentido da vida, exacerbando todos, quando superamos os 40 graus. Talvez seja a desidratação que nos faz delirar. Talvez sejam os dias mais longos ou o cansaço que o calor nos impõe.

A verdade é que, nestes dias que passam, o calor é mais intenso, os pensamentos dividem-se e nos vários sentidos, o da vida é aquele que mais ressoa nas nossas ideias.

Possivelmente, quando os dias de calor nos abandonem, não faça sentido pensar sobre o sentido das coisas. Possivelmente, quando o frio e a neve substituírem a humidade e as temperaturas exacerbadas, outros motivos ilustrarão os nossos pensamentos, outras ideias. Pode ser que isto faça sentido, aliado a esse sentido mais profundo que é o da vida.