2 Agosto 2017      11:23

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O ASSÉDIO POLÍTICO NO FACEBOOK

O Facebook é um sítio privilegiado para a disseminação de informação e ideias. Contudo, com o aproximar de cada período eleitoral os facebookianos vêem-se inundados por uma profusão de publicações de cariz político que roça o assédio intelectual e que, ocasionalmente, pode levar qualquer um à loucura.

Ora, a melhor maneira para lidar com esse aborrecimento é encontrar algo que nos faça sorrir e, para isso, não há nada melhor do que transformar o assunto numa paródia. Assim, numa tentativa para explicar o comportamento desagradável ou incómodo a que repetidamente alguns se acham sujeitos, apresento esta abordagem peripatética à luz da redescoberta pseudofilosófica da coisa.

O Facebook é a Caverna de Platão. O eleitor vive na infeliz condição da ignorância, ou seja, vive no mundo ilusório das coisas publicadas no mural do Facebook. No fundo, os eleitores são prisioneiros do Facebook desde o inicio de sessão e vivem presos à sua cronologia, passando o tempo todo a olhar para o mural de fundo que é iluminado pela luz emanada do “Feed de Notícias”. Neste mural são projetadas sombras de estátuas representando pessoas, animais, plantas e objetos, mostrando cenas e situações do dia-a-dia. E, assim, os eleitores prisioneiros, passam a sua vida a dar nomes às imagens (sombras), analisando e julgando as situações. Como os eleitores estão aprisionados, virados para o mural de entrada, não conseguem ver qualquer objeto além das imagens e publicações do Facebook, pelo que os eleitores acorrentados, apenas são capazes de construir a sua realidade do mundo através dessas imagens (sombras).

Estou no Facebook, logo existo. Princípio fundamental de toda a certeza racionalista que formula o Facebook enquanto espaço de excelência para afirmação da sua existência: eu publico ou mostro-me no Facebook, logo existo. Diria a este respeito que a maneira como cada um se mostra ensina-nos algo sobre o tipo de existência, experiência e pensamento, pelo que a adaptação da máxima de Descartes “penso logo existo”, eventualmente, explica as publicações de “post’s” sem conteúdo, mas recheadas de imagens e “selfies”. Contudo, admite-se que a ausência de conteúdo possa ser, ainda, justificada por incapacidade de expressão escrita, ou motivada pela trivialidade do pensamento.

A mesma publicação nunca passa duas vezes no mesmo “Feed de Notícias”. No Facebook, tudo é movimento e nada pode permanecer parado: tudo flui, tudo se move, exceto o próprio movimento. Assim se explica a aparente repetição, até á exaustão, das mesmas publicações, imagens e/ou “selfies”. Esta proposição, ainda, confirma o que dizia Heráclito “a mesma água nunca passa duas vezes por baixo da mesma ponte”.

Os “Likes” justificam os meios. Conceito que concebe o Facebook enquanto lugar privilegiado do não pensamento e do pensamento feito: pouco importa o que cada um pensa sobre a coisa, mas antes, o que a coisa acha que cada qual deve pensar acerca dela. Assim se justifica as publicações que têm como propósito gerar indignação fácil, independentemente da veracidade do seu conteúdo, o único objetivo é caçar “Likes” e comentários.

Não basta ser candidato, deve parecer candidato. No fundo, é como à mulher de César não basta ser honesta, deve parecer honesta. Assim, deve ser dada a impressão de ter muitos seguidores; ostentar muitos “Likes”; e aparentar muita discussão em torno dos comentários.

Paródia à parte, o fundamental é a liberdade de expressão permanecer nas redes sociais. E quanto ao assédio, diria apenas que é um não problema. Quem se sente importunado ou incomodado faça uso das ferramentas e opções de configuração que permitem lidar com essas situações.

Ora, venha de lá essa pré-campanha eleitoral...

Imagem de capa de https://www.youtube.com/watch?v=rj7F54b68Hc