8 Abril 2016      14:17

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O ALENTEJO COMO ESPAÇO PARA A CRIATIVIDADE

Joana Martins e Paulo Caldeira, naturais de Lisboa e de Castro Marim, respetivamente, e a residir em Mértola há vários anos, são os criadores da Hand Color, marca que nasceu em 2010 e que se encontra por trás da criação de peças artesanais únicas e conceituais que demonstram os traços da cultura portuguesa, da nossa história e do nosso quotidiano. Fomos ao seu encontro e conhecê-los melhor. Conheça-os também e visite a página no facebook em https://www.facebook.com/handcolor.art

Tribuna Alentejo – Em que circunstâncias vieram morar para Mértola?

Joana Martins – Eu, desde os meus 10 anos que vim viver para o concelho de Mértola, a minha mãe é natural do concelho e quando regressou de Lisboa para o Alentejo trouxe-me consigo. Posso dizer que sou alentejana, uma vez que foi no concelho de Mértola que vivi a maior parte da minha vida, onde estudei e onde criei a minha personalidade. O Paulo, em 2001 veio estudar arqueologia para Mértola, e foi em 2002 que nos conhecemos, ainda bem jovens, e desde então seguimos o nosso caminho em conjunto.

Tribuna Alentejo – A vossa formação e experiência profissional é na área do artesanato?

Paulo Caldeira – Tanto eu como a Joana temos um passado profissional noutras áreas de formação, mas que na minha opinião contribuíram bastante para o entendimento técnico e espacial do artesanato.

A Joana é socióloga, trabalhou cinco anos na área, numa Associação de Desenvolvimento Local em Mértola (ADPM) e participou em vários projetos de desenvolvimento local e promoção das artes e ofícios do território, onde se destacam os projetos de valorização do nosso artesanato, como é exemplo da Cooperativa Oficina de Tecelagem de Mértola, no entanto a sua relação com o artesanato é anterior, neta de carpinteiro, sempre criou as suas “joias” a titulo autodidático, tornando-se artesã profissional em 2012.

No meu caso, licenciei-me em arqueologia e trabalhei 10 anos nesta área, tive a oportunidade de trabalhar com as mãos nos processos de escavação arqueológica, bem como de restauro, assim como ficar a conhecer as técnicas de desenho, para além de ter adquirido conhecimento das especificidades do nosso território, portanto não foi difícil a minha passagem para o artesanato, também porque tive a ajuda da Joana, que me passou o seu conhecimento no que respeita à conceção das peças artesanais. O meu contributo inicial, posso dizê-lo que foi mais ao nível do levantamento etnográfico português, no sentido da criação de padrões identitários da nossa cultura, o que ajuda bastante na parte criativa do processo artesanal. Este ano, em 2016, tornei-me artesão profissional.

Tribuna Alentejo – Como nasce a Hand Color?

Joana Martins – Desde criança, sempre me dediquei a fazer os meus colares, com missangas, conchas, e outras contas… foi algo que me foi acompanhando até à adolescência. Quando conheci o material com o qual trabalhamos hoje, a argila polimerica, foi um salto para uma maior criatividade. Trata-se de uma massa que tem uma palete vibrante de cores, e que através da sua modelagem possibilita a criação de inúmeras peças com formas e padrões diferentes. Até terminar o meu curso nas áreas sociais, o trabalho que desenvolvia com este material era um hobbie e uma forma de descontração e relaxamento, pois enquanto estava a criar, sentia-me bem, mas já nesta altura vendia algumas peças a familiares e amigos próximos. Em 2010, e após eu e o Paulo concluirmos os nossos estudos em Lisboa, decidimos regressar ao sul, numa incerteza se ficaríamos pelo Alentejo ou Algarve. Como regressámos no início do verão, fomos para o Algarve e dedicámo-nos a criar peças artesanais para as vendermos em algumas Feiras de Artesanato durante o período de verão. A experiencia para nós foi maravilhosa, e foi assim que tudo começou… ainda assim, estivemos 4 anos com esta atividade artesanal em segundo plano, uma vez que neste período, ambos estávamos a trabalhar nas nossas áreas de formação. Em 2014 a Hand Color conquistou a sua estabilidade possibilitando que a partir de 2015 nos dedicássemos inteiramente a este projeto.

Tribuna Alentejo – Porquê “Hand Color”?

Paulo Caldeira – Hand Color expressa bem o significado do nosso trabalho, pois criar peças através das nossas mãos, com muita cor e alegria, foi sempre algo que nos caracterizou.

Quando definimos o nome “Hand Color” escolhemos a expressão em inglês por ser um idioma universal e porque seria mais fácil de projetar no mercado online internacional devido às suas especificidades. Temos noção das potencialidades deste mercado e como tal um dos primeiros passos que demos ao nível da promoção foi a construção do nosso site e loja online, cuja criação só foi possível, através da colaboração de Bruno Reis, um amigo próximo, que atualmente gere o site connosco.

Tribuna Alentejo – Que acessórios criam?

Joana Martins – Criamos acessórios de moda, principalmente direcionados para a Mulher. Brinco, anéis, pregadeiras, pulseiras e colares, mas também há espaço para a criação de pequenos acessórios para Homem como por exemplo os botões de punho. Atualmente as nossas peças são maioritariamente bijuteria, mas já estamos a trabalhar joias onde adicionamos materiais nobres como a Prata ao nosso trabalho artesanal.

A Hand Color está a trabalhar com recurso à identidade local e patrimonial e neste sentido, a incluir padrões histórico-culturais nas nossas peças. Todos estes acessórios têm como padrões motivos inspirados no Azulejo Português, na Calçada Portuguesa, nos padrões das Mantas Alentejanas (Coleção Montanhac), e inspirados também noutros artistas internacionais de renome como Kandinsky, Klimt, Mondrian ou Gaudí.

Tribuna Alentejo – E como podem ser adquiridos?

Paulo Caldeira – As nossas peças podem ser adquiridas em vários locais: No nosso Atelier de Artesanato em Mértola, que fica no Largo Vasco da Gama Nº4, inserido no emblemático edifício do Café Guadiana; na nossa loja online, www.handcolor.pt; em algumas Feiras de Artesanato em que participamos, ou em diversas lojas de Norte a Sul do país que comercializam as nossas peças.

Todos os pontos de venda estão identificados em www.handcolor.pt

Tribuna Alentejo – Qual é a relação da Hand Color com a Cooperativa Oficina de Tecelagem de Mértola?

Joana Martins – É uma relação acima de tudo de respeito e admiração pelo trabalho desenvolvido pelas tecedeiras da Cooperativa Oficina de Tecelagem de Mértola. A nossa primeira coleção temática foi inspirada nos fios de lã que compõem os sublimes e particulares padrões das mantas alentejanas. “Montanhac” é uma coleção que pretende homenagear o trabalho das tecedeiras de Mértola estando disponível para venda na Loja da Cooperativa Oficina de Tecelagem de Mértola. A parceria com esta Cooperativa, surgiu com o objetivo de promover os padrões únicos das mantas alentejanas e como forma de enaltecer esta arte, transferindo para a bijuteria, padrões característicos e com significado para as gentes deste território e seus visitantes.

Atualmente estamos a desenvolver outras peças artesanais em parceria com a Cooperativa Oficina de Tecelagem de Mértola. Trata-se de uma nova marca artesanal “Montanhac” que iremos lançar em breve, cujo produto final serão acessórios de moda, como por exemplo malas com adereços feitos com pequenos excertos das seculares mantas de lã ou das mantas de retalhos.

Poderão aceder também ao facebook desta marca: https://www.facebook.com/montanhac

Com esta parceria, pretendemos oferecer aos visitantes de Mértola e aos admiradores dos lanifícios e da tecelagem tradicional, um produto diferente, moderno e contemporâneo, e onde cada um pode levar consigo um pouco da história destas tecedeiras.

Tribuna Alentejo – Este é um projeto a que dedicam 100% do vosso tempo ou há outros projetos?

Paulo Caldeira – Atualmente este projeto ocupa-nos a maior parte do nosso tempo, mas como quem corre por gosto não se cansa, a Joana estando mais envolvida com a valorização da tecelagem de Mértola dedica uma parte do seu tempo ao novo projeto “Montanhac”.

Eu, para além do tempo dedicado à Hand Color, estou a aprender as artes da apicultura, entre outras agrícolas que me fazem voltar a ter o contacto com a terra e a natureza.

Tribuna Alentejo – De que forma o Alentejo inspira o vosso projeto criativo?

Joana Martins – O Alentejo por si só é um espaço que possibilita a disponibilidade para a criatividade, pois pela sua beleza, calma e tranquilidade, é impossível não estarmos sempre a pensar em novas coisas que possamos fazer.

O Alentejo e mais precisamente Mértola, que é o local onde vivemos, são bastante inspiradores para o nosso trabalho criativo. Tratando-se de uma Vila Museu, oferece-nos uma grande diversidade de símbolos e iconografias de diferentes épocas que nos inspiram na criação de padrões e também de outras peças.

Brevemente, enunciando desde já uma nova coleção, trabalharemos padrões de inspiração islâmica e romana de Mértola.

Tribuna Alentejo – Que mensagem gostaria de deixar aos nossos leitores?

Paulo Caldeira – Aos leitores que conhecem a Hand Color um obrigado por nos ajudarem no nosso crescimento e por nos fazerem acreditar neste projeto, aos que ainda não conhecem temos a esperança que venham a conhecer e que apreciem e se identifiquem com o nosso trabalho.

Estamos felizes por as pessoas cada vez mais valorizarem o Artesanato e o que é feito em Portugal. Da nossa parte e tratando-se de artesanato, comprometemo-nos com a evolução artística, genuinidade e identidade no nosso trabalho, e para todos desejamos… Uma mão cheia de cor e muita alegria!