22 Fevereiro 2016      09:47

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O “BREXIT”, WINSTON CHURCHILL E DE GAULLE

"ENTRE NAÇÕES"

“Existe uma solução que ao fim de poucos anos tornaria a Europa livre e feliz. Seria recrear a família europeia, ou o que conseguirmos segurar dela, e providenciar-lhe estruturas sob as quais a mesma possa viver em paz, segurança e liberdade. Temos de construir uma espécie de Estados Unidos da Europa.” - Winston Churchill, Universidade de Zurique, 1946

"Nós temos o nosso próprio sonho, e a nossa própria tarefa. Estamos com a Europa, mas não nela. Estamos ligados, mas não juntos. Estamos interessados e relacionados, mas não absorvidos. Se o Reino Unido tiver de escolher entre a Europa e o mar aberto, teremos sempre de escolher o mar aberto." - Winston Churchill, Câmara dos Comuns, 11 de Maio de 1953

 

É com as expressões acima citadas que começo a reflexão desta semana, citações essas de uma figura incontornável da história mundial contemporânea, Winston Churchill, Primeiro Ministro britânico durante o período crítico da II Guerra Mundial 1940-1945, e durante o pós-guerra entre 1951-1955.

Podemos ler na primeira citação uma clara visão federalista impressa no discurso de Churchill, visão essa que o mesmo tinha para a Europa, mas também uma visão onde o Reino Unido não se revia, Churchill sempre considerou que a solução para a guerra e insegurança na Europa passaria pela união dos Estados, mas com o Reino Unido na periferia dessa união, onde nunca estaria totalmente incluído, visão essa que está bem expressa na segunda citação.

E é precisamente nestes dois excertos de dois discursos diferentes de Churchill que devemos pegar para compreender o tão actualmente aclamado “Brexit”, uma junção sensacionalista dos termos “Britain” e “Exit”, o primeiro relativo ao “Reino Unido”, e o segundo relativo a “Saída”, ou seja, “Saída do Reino Unido” da União Europeia, termo este que soa familiar, e não é para menos quando ainda há meses estivemos na eminência de um “Grexit”, relativo à possível saída grega.

A pergunta que ressalta é: Porque é que o Reino Unido está na eminência de sair da União Europeia? A resposta mais simples seria outra pergunta como: Mas alguma vez estiveram dentro?

Isto pode parecer confuso para quem não estuda ou trabalha com estas matérias, mas a verdade é: Sim, o Reino Unido pode vir a abandonar a UE. E pode dizer-se que desde que aderiram à CEE em 1973, sempre estiveram com um pé dentro e outro fora.

O Reino Unido era a potência hegemónica mundial antes dos EUA lhes ganharem esse estatuto, até 1945 o Reino Unido era visto dessa forma, uma potência mundial, cenário que se inverteu com o fim do imperialismo, que era a grande fonte de poder desta nação como potência, ficou a Commonwealth, mas as circunstâncias não seriam as mesmas, o que levou os britânicos a passar do estatuto de potência mundial, para ex-potência, vendo-se ultrapassado pelos EUA e URSS. Os britânicos eram agora, uma mera potência regional, com importância internacional.

Não obstante, o Reino Unido sempre acalentou o desejo de voltar ao “topo do mundo”, e como tal, continua a ver-se ao espelho desde 1945 até aos dias de hoje como “o líder”. E a verdade é que o líder se quer ser líder, não pode misturar-se com aqueles que não são! E no entender dos anglo-saxónicos, a Europa Continental não é um líder.

Mas a certo momento, os britânicos viram vantagens em aderir à CEE, vantagens de cariz económico, que era esse o seu interesse para com a Europa Continental. Mas a esperança acalentada de voltar à ribalta, puxava-os para fora de qualquer forma de integração política na CEE, que os atrasava nessa ambição.

Mas acontece que a Europa continuou o seu caminho natural de integração, que tornou real o Tratado de Maastricht, o tratado que intensificava a delegação de competências políticas para instituições supranacionais, tudo o que o Reino Unido não desejava, um passo de gigante rumo à união política.

O Reino Unido constituiu sempre um obstáculo à integração europeia nos moldes idealizados pelos continentais, os países continentais querem mais Europa, o Reino Unido quer menos Europa. Situação que mais tarde ou mais cedo viria a tomar a forma de “Brexit”, ou seja, a ruptura entre a visão continental de Europa e a visão anglo-saxónica.

Todo este raciocínio só poderia ser concluído com o pensamento do General De Gaulle, que se palmilhasse no nosso planeta nos dias de hoje diria com toda a certeza um enorme e redondo “Eu Avisei”!

Facto é que De Gaulle, General Francês, líder carismático e figura da resistência Francesa na II Guerra Mundial, tornou-se mais tarde no Presidente da República Francesa entre 1959-1969, onde ficou famoso por ter vetado em 1963 e 1967 a entrada do Reino Unido na CEE, alegando que as posições ideológicas, ambições e modo de estar britânicos não se enquadravam com os valores, ambições e modo de estar dos Europeus continentais. Manteve essa postura até 1969, ano em que cessa funções como Chefe de Estado, vindo o Reino Unido a ser aceite numa nova tentativa 4 anos mais tarde em 1973, com De Gaulle já fora do panorama político europeu.

Acontece que De Gaulle estava certo! A prova disso mesmo é o que está hoje a acontecer com a possibilidade de “Brexit”, todas as pressões e jogos de poder que os britânicos estão a dirigir no sentido de alcançar o que realmente pretendem. Menos Europa! Tal como tudo o que desde 1973 o Reino Unido contra a maré sempre se esforçou por travar… Mais Europa!