21 Dezembro 2019      15:36

Está aqui

Niilismo-Invicta

Século XXI: vigésimo primeiro século da Era Comum. Ainda somos nós, jovens, a salvação da nossa própria geração? Temos ossos frios e frágeis, são de vidro.

 Levanto a minha cabeça repentina. A água escorre pela minha face enquanto olho para a minha imagem (mas que imagem?) no espelho; e dou-me conta de que já estamos aqui. Já estamos no século XXI e não o vivemos. Vivermos e estarmos vivos são duas situações diferentes. Somos o desastre desta geração. Mas também somos a sua salvação. Somos jovens. Cansados. Mas com energia para ir até ao fim do mundo, seja ele qual for – o mundo ou o fim -. Cada um escolhe o seu, mas já não temos poder de escolha. Desde o dia em que acordamos a nossa consciência que já não temos mais descanso. Os anos passam e são cheios. Estão cheios. Mas não de descanso e paz. Estão ocupados; mas não de amor e liberdade.

São tantos os prazeres deste mundo; os melhores são os pequenos prazeres da vida. Infelizmente, desvalorizamos tudo aquilo que é ou que consideramos “pequeno”; mas, no fundo, o que tem mais valor são mesmo as coisas diminutas.

Tal como um colo. Não acho que temos vindo a valorizar um bom colo quando é preciso. Já não queremos saber daquele colo da nossa mãe, que está sempre lá, mas parece que nunca o vemos, sentimos ou encontramos. Impressionante como alguém, seja quem for, é capaz de recarregar as nossas energias e dar-nos força para continuar vivos.

Tal como quando estamos na prisão da nossa mente e esta nos mata lenta e dolorosamente com os pensamentos adúlteros; já não queremos saber do quão importante é acreditarmos numa pessoa e confiarmos nela, nas suas capacidades, nos seus objetivos e nos seus desejos.

Maldita a hora em que acreditamos que sabemos tudo e que somos infinitos; bem-dita a hora em que descobrimos que uma pessoa se rege pela fé que os outros têm nela mesma, tal como um carro apenas se move com o combustível (e que, de facto, somos mesmo infinitos e pó; e energia). Creio que ninguém tem noção do quão imprescindível é dizermos a alguém que está tudo bem e que vai correr tudo bem. Já ninguém sabe a importância desta pequena afirmação quando é dita a alguém cujo mundo está a desabar, e ela juntamente com ele. Tem tudo consciência de que estamos a destruir-nos aos poucos, mas todos soam como se não houvesse solução para nada, quando há. Os jovens estão sem esperança, mas não deixam de ser os típicos românticos sem esperança. Estão com medo, mas não deixam de contradizer as leis do universo e do destino só para serem felizes durante um momento; porque eles querem aquilo, porque querem que dê certo e precisam de forças maiores para os impedirem de acreditar seja no que for. Reparemos na ambição desmedida que temos no  peito e sintamos o peso enorme do rochedo que, cada vez que o tentamos mover arranha e esburaca o busto.

Quando iremos entender, de uma vez por todas, que a dor é para ser sentida, chorada e relembrada e que não existe nada que possamos fazer quanto a isso senão agradecer pela força?

 

Natural de Reguengos de Monsaraz, Beatriz Velez tem 17 anos e estuda Ciência Política no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas. Escritora desde os 13 anos, amante dos animais e da Natureza.