28 Agosto 2022      10:40

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Não há gente para trabalhar?

Há poucos dias, vi esta informação colada no vidro de um estabelecimento comercial e fiquei um pouco apreensivo… Sabemos que a situação é transversal ao país, mas a nossa região também já “se vê a braços” com o problema.

De acordo com as últimas notícias da comunicação social, 2022 irá ser o melhor ano de sempre em termos turísticos no Alentejo. Aos olhos de todos nós, a recuperação é evidente. No caso específico de Vila Viçosa, foi notório, durante os meses de verão, um aumento substancial do número de visitantes, o que se traduz em receitas para os empreendedores locais e consequentemente, uma “lufada de ar fresco” em termos do desenvolvimento económico do concelho e da região, depois de dois anos de pandemia.

O trabalho de divulgação e promoção do Alentejo está a ser feito, quer pelos organismos oficiais, quer pelos municípios, quer pelas próprias empresas do sector.

No entanto, não há rosas sem espinhos.

Apesar dos investimentos efetuados em equipamentos culturais e projetos inovadores a nível da hotelaria e restauração, constata-se, de forma crescente, uma notória falta de mão-de-obra, que se torna incompatível com a resposta de qualidade que se pretende disponibilizar a quem nos visita. Ou seja, temos as infraestruturas, de diferente tipologia, mas começam a faltar as pessoas para que os serviços sejam assegurados…

Em Vila Viçosa, estamos já a ser afetados por este fenómeno. Muitos empresários encontram-se com dificuldades em gerir os seus negócios, por não terem funcionários para que o serviço seja assegurado. Em muitos casos, o encerramento, ainda que temporário, é uma realidade que nos deve preocupar a todos.

Num receio que se aplica também a quem tem responsabilidades públicas, teme-se a perda iminente de capacidade de resposta e que a imagem da nossa região possa ser irremediavelmente afetada.

Podemos ter os museus e monumentos abertos, mas se os hotéis e restaurantes estiverem por uma determinada razão encerrados, o trabalho de equipa, que é fundamental no sector turístico, fica bastante condicionado.

Já sabemos que em termos demográficos, o Alentejo é uma região do país que tem vindo a perder população de forma gradual e esse fator influencia, de forma efetiva, a escassez de potenciais colaboradores para o exercício de determinadas funções (empregados de balcão, auxiliares de cozinha, copeiros, serviço de quartos, entre outros). Também se verifica que esta situação é crescente noutros sectores de atividade, nomeadamente a nível da construção civil e no sector dos mármores, onde as possibilidades em termos de emprego são neste momento elevadas.

No caso do sector turístico, identificado o problema, que se vêm agravando com maior incidência desde o início do ano, convém refletir sobre as possíveis soluções.

Será que realmente não há gente para trabalhar?

Também neste caso, as opiniões divergem. Muitos empresários do sector do turismo alegam que a vinda de trabalhadores de outros países, nomeadamente da CPLP, pode ser uma solução válida para colmatar as lacunas. Referem que esta mão-de-obra proveniente de outros países é qualificada, mas a sua chegada a Portugal é sempre condicionada por fatores de ordem burocrática, nomeadamente na obtenção de vistos de trabalho, que importa flexibilizar. Os processos ficam demasiado tempo nos gabinetes.

 Por outro lado, os sindicatos alegam que esta proposta de solução é baseada na possibilidade de recurso a salários reduzidos para fazer face à situação de carência   que se vive, “com condições próprias do tempo da escravatura”.

 Considero que, como em tudo na vida, é necessário encontrar neste âmbito um ponto de equilíbrio. A procura é elevada e haverá espaço para todos. As decisões são  políticas e devem ser equacionadas e implementadas com a maior brevidade possível, de modo a que os problemas possam ser resolvidos.

 A agilização dos vistos para imigrantes e a revisão dos atuais mecanismos de legalização para trabalhadores da Comunidade de Países de Língua Portuguesa   podem ser boas medidas (conforme defende a AHRESP), mas é necessário também valorizar a “prata da casa” e recompensar os recursos humanos existentes no   país, através de medidas de apoio para o efeito.

 Essas medidas de apoio podem passar, de acordo com a AHRESP e com as quais concordo, por atualização dos salários com base nos índices de produtividade,   por possibilidade de progressão na carreira e por uma melhor conciliação entre vida profissional e vida familiar. Contudo, é necessário apostar de forma coerente,   estruturada e efetiva na qualificação, através de ações de formação para desempregados e de ativos de outros sectores.

 É urgente resolver esta situação de modo a que possamos continuar a elevar os níveis de qualidade em termos de resposta turística, para que os que nos procuram   fiquem satisfeitos com o serviço prestado e possam, de forma personalizada e em larga escala, promover o Alentejo de forma cada vez mais efetiva.