13 Novembro 2022      10:55

Está aqui

εἰς τήν Πόλιν (na cidade)

A cidade está longe e contém muitas fronteiras: muitas, entre esplendor e miséria - poucas, entre sonho e realidade, entre memória e presente, entre Europa e Ásia. A cidade está sobre sete colinas, como Roma e também Lisboa, e é dividida por um mar que liga dois mares.

Caminhando rápido, dois dias não são suficientes para atravessá-lo, é tão extenso! Dos seus vinte e sete bairros - cujos nomes podemos reconhecer, mas lutamos para pronunciar, cada um é tão grande quanto uma cidade inteira. A cidade é muito antiga e foi sitiada muitas vezes, duas vezes conquistada, duas vezes destruída por guerras e terremotos. Nos bairros estão representadas as sete religiões ainda difundidas entre seus muitos habitantes de todas as origens. Acho que muitos meses não seriam suficientes para visitar todas as mesquitas, igrejas, sinagogas e cemitérios, que têm uma história para contar.

Desta vez passei lá uma semana, seguindo os vestígios daquele esplêndido renascimento - entre os séculos XV e XVI - em que a civilização otomana deu o seu melhor nas obras civis e religiosas, na cultura e na tolerância civil. Estes são os anos do Sultão Bayezid II e Suleyman, o Magnífico e Mirimah, do arquiteto Mimar Sinan e suas maravilhosas construções, do Almirante Kemal Reis e de suas expedições navais na Andaluzia para resgatar judeus sefarditas e muçulmanos perseguidos pelos castelhanos após o édito de Granada.

A cidade questiona o visitante, sobretudo o Mediterrâneo, sobre o seu próprio passado e sobre a composição da civilização a que pertencemos, expõe as suas maravilhas e as suas próprias feridas, leva-o a traçar o seu conhecimento com uma quantidade de porquês? Quem? Como? Quando? O que aconteceu aqui? Exigindo que as respostas sejam encontradas. Voltei para casa mais rico.

Recomendo esta viagem, a quem tem curiosidade e não tem medo de observar uma grande multidão de pessoas a passar umas pelas outras, independentemente de quanto e como os outros estejam vestidos, e misturar-se com ela utilizando transportes públicos e - especialmente a pé - e a sua rota num mapa de papel. Os pés, muito inteligentes, e o olho - não se distraindo com o smartphone - irão guiá-lo.

Mimar Sinan viveu entre 1489 e 1588. Foi o tempo de Manuel I de Portugal, (1469-1521), Vasco da Gama (1469-1524) e Fernão de Magalhães (1480 - 1521). Não muito longe estavam Fernando II de Aragão (1452-1516), Isabel a Católica (1474-1504),  Cristóvão Colombo (1451-1506) e também Bartolomé de las Casas (1484-1566).  

Em Roma havia o Papa Leão X (também conhecido como Giovanni De Medici, 1475-1521).  Na Itália, esses foram os anos de Leonardo da Vinci (1452-1519), Michelangelo Buonarroti (1475-1564), Raffaello Sanzio (1483-1520), Andrea Palladio (1508-1580) e Donato Bramante (1444-1514).

O édito de Granada foi em 1492 e teve um efeito catastrófico para centenas de milhares de pessoas.

A batalha de Lepanto foi em 7 de outubro de 1571, mas teve um significado principalmente simbólico, considerando que em 1683 os Turcos estavam sob os muros de Viena.

Podem ajudar nessa viagem as maravilhosas fotografias de Istambul de Ara Güler, Coşkun Aşar e Tolga Gümüş, as explicações contidas em: Sinan's Istanbul, um guia das obras de Sinan, de Reha Günay, Editora YemYain (2014) e as fantásticas fotografias que encontram-se em: Sinan, arquitecto de Suleyman o Magnífico e a era de ouro otomana, de J Freely e A.R. Burelli, Editora Thames & Hudson (1992).