22 Janeiro 2023      11:42

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A morte

Todos os momentos são propícios a reflexão, sejam eles mais alegres ou mais tristes, mais gratificantes ou mais dolorosos. Ontem, dia 20, só num dia, quatro pessoas amigas e conhecidas, do meu círculo pessoal, partiram para o descanso eterno, como todos nós gostamos de pensar. Imaginar aqueles que mais amamos num lugar belo, conforta-nos e alivia a nossa dor. Alivia, porque essa dor, creio, nunca nos abandona. Molda-se ao tempo, às circunstâncias e deixa-nos seguir em frente, sem nunca nos deixar esquecer da matéria de que somos feitos, daquilo que nos completa e o que nos torna mais frágeis. A dor fragiliza-nos por um lado e numa intensidade que pode atingir o grau máximo, por outro lado consegue tornar a nossa pele mais dura, num sentido metafórico.

Dedicar um texto, hoje, dia de nascimento(s) é considerar o círculo que é a nossa passagem pelo planeta terra, enquanto seres vivos. A Bíblia escreve, no Génesis 3:19, a Adão que ele é pó e pó voltará a ser. É uma constatação que todos enfrentamos e enfrentaremos num ou em vários momentos específicos da nossa vida.

Porque somos seres que vivemos intimamente ligados à imagem, criamos uma imagem da morte, horrenda, com uma foice que corta as vidas, como destrói as plantações e tira o alimento essas almas que habitam dentro destes corpos.

A tristeza da partida traz consigo a saudade. A distância física temporária, a incerta, ou a permanente abre um vazio que é como um oceano sem água e sem rasto de vida entre nós e aqueles que nos faltam. Pensar na distância e falta que nos fazem, ou que lhes fazemos, convocam a memória e as memórias e essas acalentam-nos o espírito.

Vemos e veremos, com preocupação, o outro em bem-estar. Quem sabe num campo de margaridas com um sol e um céu azul resplandecente? Quem sabe a fazer aquilo que mais gostava de fazer… as coisas que queria ter feito e nunca fez? Imaginamos, porque ilumina não só o nosso espírito, como os daqueles que estão nas nossas memórias e de quem temos uma saudade profunda, num lugar bonito e com um rosto de felicidade e isso é o mais importante!

A morte é saudade, ausência física mas não espiritual. A morte é memória e, como já dito e repetido por tantos, enquanto a memória dos ausentes viver em nós, eles também permanecerão.