29 Março 2023      16:06

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Mora, dedicatória a uma vila do interior alentejano

Miguel Allen Lima é CEO da ARQUILED

"Mora, um amor para sempre" é um conhecido vídeo de promoção do concelho, mas é também o que sentimos na ARQUILED. A história de como viemos parar a Mora e dos desafios e recompensas da interioridade; em jeito de carta de amor tardia....

Há quase 10 anos, quando abracei o desafio de liderar a ARQUILED, já a conhecia como empresa inovadora na iluminação e pioneira na nova tecnologia LED (Light Emitting Diode). Talvez por isso, confesso que fiquei surpreendido ao saber que a sua fábrica e escritórios se encontravam sedeados numa pequena vila do interior alentejano – Mora.

Mas porquê Mora?

Tendo o país alguns polos industriais conhecidos, com zonas mais bem preparadas para acolher unidades tecnológicas e com melhores vias de acesso, seria de esperar que essa fosse a escolha natural de uma empresa como a ARQUILED, mas tal não aconteceu.

A razão, soube depois, é bastante prosaica: em 2008 a ARQUILED adquiriu uma empresa de equipamento elétrico cujas instalações se encontravam localizadas em Mora, justamente.

De uma forma geral, são conhecidas as limitações das zonas do interior do país: uma certa desertificação, infraestruturas limitadas em serviços básicos como a saúde e a educação, e fracas acessibilidades. À medida que me fui integrando na empresa fui constatando esses e outros inconvenientes, bem como percebendo as condicionantes que por vezes lhe estão associadas. Mas fui (fomos) também aprendendo a superá-las e… surpreendentemente, dei por mim a vislumbrar as vantagens e recompensas associadas à dita “interioridade”.

E é nestas que gostaria de me concentrar.

O lado bom da “interioridade”.

Como diriam os anglo-saxónicos, make no mistake, lidamos com desafios por estarmos onde estamos. Mas, em contraponto, em Mora uma empresa da nossa dimensão pode fazer a diferença. Na vida das pessoas que nela trabalham e das empresas que a fornecem. Uma diferença real, para além do discurso, tantas vezes meramente performativo e politicamente correto, da responsabilidade corporativa. Em Mora, a ARQUILED pode ser, acreditamos que é, um motor de desenvolvimento local e de combate à desertificação da região em que, reconhecidamente, nos instalámos por razões mais pragmáticos do que estrategicamente alinhadas.

Esta diferença que conseguimos fazer na comunidade dificilmente estaria ao nosso alcance numa localização geográfica mais central. E não pode senão encher-nos a alma, especialmente quando sentimos o retorno da própria comunidade.

Querem um exemplo? Um dia o presidente de câmara, da altura, disse-me: “vocês ajudam a reter a juventude no concelho, de outra forma já tinha saído”. Escolher onde localizar uma empresa é quase sempre uma decisão estratégica que pretende maximizar as vantagens inerentes. No caso da ARQUILED a decisão estratégica foi a aquisição da tal empresa de equipamentos elétricos; a localização, foi uma consequência relacionada. “Ask not what your country can do for you – ask what you can do for your country”, disse John Kennedy no seu famoso discurso inaugural. Para nós, não se tratou do que Mora poderia fazer por nós, mas é certamente o que a ARQUILED pode, e se orgulha de poder fazer, por Mora. E sabem que mais, o retorno acaba por acontecer, estabelecendo-se uma relação simbiótica entre a comunidade e a empresa em que ganhamos todos.

“Mora, um amor para sempre”

Essa é também uma das lições que o, recentemente falecido, Comendador Rui Nabeiro nos deixa. É possível desenvolver empresas de sucesso no interior e, com essas empresas estimular e reter o talento. Ao mesmo tempo que se geram sinergias e se fomenta o desenvolvimento de todo o ecossistema económico, como o comércio local – lojas, restaurantes, etc. – e o turismo. E, não esquecer que, de um modo geral, a qualidade de vida nessas zonas é muito superior à das grandes cidades. Um custo de vida mais baixo, sem trânsito, uma bela paisagem e uma gastronomia de topo. Mora, aliás tem um património gastronómico-vinícola que vale a pena conhecer, assim como o seu turismo cultural e de natureza.

Quinze anos passados, a fábrica originalmente adquirida pela ARQUILED foi bastante modificada, adaptada às nossas necessidades. Mas a decisão que nos trouxe para Mora, quebrando a tendência “natural” para a concentração em polos industriais do litoral, revelou-se certeira. Não nos arrependemos dela; pelo contrário, já nos sentimos morenses. Ainda bem que cá estamos.

Obrigado Mora.

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Miguel Allen Lima é CEO da ARQUILED