1 Julho 2018      11:46

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Migrantes são consequência, não o problema

Pelas entrelinhas de um Mundial de Futebol pleno de surpresas, a União Europeia reuniu e negociou um acordo sobre migrantes.

Foi revelado por muitos governantes que este é, de facto, um tema fraturante no seio da União, a mesma que nasce da fraternidade entre os povos e que decidiu agora – após árduas negociações - a criação de plataformas de desembarque de migrantes fora da União e a criação "voluntária" de centros de identificação de refugiados na Europa.

Dentro dos 28, à posição extremada de alguns países de Leste juntou-se a relutância italiana – que nada surpreende tendo em conta a situação dos barcos que tiverem que ser desviados para Valência, em Espanha, na passada semana – e que ameaçou diversas vezes com o vetar as conclusões, obrigando a Alemanha – desejosa de uma solução una e construtiva – a referir que a política do “cada um por si” seria o fim da Europa.

Giuseppe Conte, o novo primeiro-ministro italiano, disse após o acordo que a “Itália já não está sozinha”, e que “Depois desta cimeira, a Europa está mais responsável e oferece mais solidariedade.”

Resultado: os 28 Estados Membros – curiosa esta denominação que se usa agora com mais frequência que União Europeia – chegaram a um acordo que, não sendo ideal, foi o possível para não criar cisões gigantescas entre os seus “Estados Membros” e que levou a chanceler alemã, Angela Merkel, a dizer que: “A Europa ainda tem muito trabalho a fazer.”

O novo acordo representa uma alteração substancial da política de refugiados da UE e favorece – como se alguém saísse a ganhar quando existem refugiados - os países que querem maior controlo das fronteiras externas da UE e termina com as quotas de distribuição de requerentes de asilo e refugiados estabelecidas sendo agora o “voluntarismo” a palavra chave para o acolhimento de refugiados e requerentes de asilo.

O acordo prevê assim a criação de plataformas de desembarque de migrantes fora da EU (Marrocos, Tunísia e Albânia já recusaram); o aumento dos apoios económicos a países do Norte de África e Turquia; a criação voluntária de centros em território europeu - que servirão para identificar as pessoas salvas no Mediterrânea, e tentar separar os que são considerados aptos para se candidatarem a pedir asilo na UE, e os que forem classificados como imigrantes económicos.

O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), congratulou-se e referiu à Reuters que “Damos as boas-vindas a qualquer resultado que conduza a uma abordagem mais colaborativa e harmonizada ao asilo e que também tenha, como núcleo e prioridade, o salvamento de vidas no mar”. 

Ainda no âmbito da ONU, esta semana trouxe-nos mais um motivo de orgulho ao ver o português António Vitorino vencer por aclamação as eleições para o cargo de diretor-geral da Organização Internacional para as Migrações.

Agora com 61 anos, António Vitorino foi Ministro (1995-1997) e Comissário Europeu (1999-2004) e venceu as três primeiras rondas de votação, tendo passado à quarta e derradeira votação com a candidata costa-riquenha, Laura Thompson.

No entanto, nesta questão dos refugiados, a meu ver, continuamos todos a falhar o alvo ao tratar os migrantes/refugiados como um problema. Não promovendo o desenvolvimento dos países de onde os migrantes/refugiados são oriundos, não impondo a democracia - e muitas vezes até provocando a guerra nesses locais - o problema não são os migrantes/refugiados fugirem e fazerem pela vida, o problema que estamos a atacar a consequência e não a causa.

O problema é que na realidade, os migrantes são a consequência de um mundo submisso ao jogo económico promotor de desigualdades sociais gritantes, muitas vezes fanático na religião e na diferença de raça, e que têm o Humanismo como refém.

Urgem medidas mais profundas, medidas à escala global e que Humanizem o mundo num combate à geofinança e ao controlo social através da gestão das bolsas e que tantas vítimas têm feito com base em interesses corporativos de uma micro minoria.

Mais, ainda solucionando este problema, em breve surgirão outros tipos de refugiados como os refugiados ambientais e que tão simplesmente fugirão do clima inóspito e em busca de algo tão essencial à vida como a água.

A nível global, como micro (nacional) cosemos os buracos em lugar de criar medidas estruturais e, mais tarde ou mais cedo, acabarão por rasgar-se uma e outra vez, até que coser deixará de ser opção. Esperamos que não seja, então, demasiado tarde.

 

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Imagem de blogdofarias.com