10 Maio 2020      11:58

Está aqui

Medo do Tempo

Tenho fobia ao tempo.

Ao ponteiro que corre mais depressa que o meu próprio piscar de olhos.

Ao barulho irrequieto que conta os passos que os segundos dão. Dias mais tarde, apaixonei-me por ele, o tempo.

Dei por mim afundada numa relação tóxica presa entre quatro paredes. Quatro paredes negras com um cheiro desagradável que se aproximam de mim mais depressa que os ponteiros um do outro.

Foi aí que o vi. Aí sim, o tempo decidiu dar-me tempo e parou.

Parou porque sabia que eu queria guardar aquele momento para sempre. Sabia que eu precisaria de reviver este sentimento vezes sem conta. Sabia que eu precisava de o ver. Sabia o meu segredo. Sabia mais que eu. Sou agora a melhor amiga do tempo. Ele deu-me o mundo sem eu o pedir.

Agora sim, danço ao som dos ponteiros do relógio. Foi aí que soube que o tempo estava certo.

Agradeço-lhe então por me der dado um sorriso novo, motivos novos e uma alma fresca.

Alguém que adormece os meus demónios mais feios, alguém que me traz de volta dando a conhecer-me a mim mesma de novo.

Se me concedessem um desejo, seria que o tempo se visse a ele mesmo através dos meus olhos, a intensidade que o meu coração acelera, a minha pele arrepia e o meu corpo sorri.

Talvez chorasse com as emoções, talvez caísse ao chão com a força. Talvez me abraçasse. Talvez.

Ganhei então um novo porto de abrigo; e que abrigo…

Um que me aconchega só de olhar. Um que me encoraja com tudo o que tem.

O ponto de abrigo mais lindo que alguma vez conhecera. Dizem que atrações físicas são comuns, mas que mentais são raras; o que me leva a concordar.

Sinto-me dependente de uma alma. Um perfume que me toca sem tocar. Que me leva a sonhar sem estar deitada. Que desenha uma felicidade em mim constantemente. O meu corpo já vive por ele. A minha mente é conduzida igualmente. Ele acolheu-me.

Juntou as peças caídas e trouxe-me de volta. Juntos, criamos a sintonia mais bonita e simples que eu já ouvira.

Não me esqueço que lhe devo uma vida.

Ele deu-me algo poderoso, alguém que me agarra constantemente e que me salva, não me deixando queimar. Ele escolheu-me. Sou grata por isso.

Aprendi então a confiar no tempo. Ele sabe o que faz. Afinal, devemos sim dar tempo ao tempo. Ele resolve, basta acreditar como eu acreditei.