Pouso o meu pé com a maior delicadeza do mundo e sou coberta pela areia mais fina que já estivera em contacto.
Fecho os olhos.
Inspiro.
Cheira a novo. Cheira a mar.
Abraço o cheiro e com todo o cuidado do mundo, vou abrindo os olhos. Eles sorriem secretamente. É o nosso segredo.
O meu coração que outrora batia furiosamente contra mim, começa a criar uma sinfonia com a minha respiração.
Sem perceber, a minha pele é cumprimentada por lágrimas ácidas que não sabia que existiam. Estou sozinha. Sempre estivera.
Decido sentar-me à beira-mar, cobrindo os pés por uma água fria e clara; esperando que a minha alma fique em sintonia. Não achando suficiente, as pontas dos meus dedos navegam até à água.
Respiro fundo de novo.
Preciso desta paz que este momento me transmite para sempre. Preciso de mim. Preciso do meu corpo azul como a cor que mais salta aos meus olhos neste momento. Está tudo bem.
Para as memórias que rodam na minha mente, deixo-as voarem. Estão presas e a sufocar. Estão pretas e queimam. O mar enrola na areia e esforço-me para que elas também. Que se percam no mar, desejo sussurrando.
A magia do mar está nas lembranças que este guarda. A magia deste cheiro está nos sorrisos. A magia deste ar refrescante está na serenidade das almas curadas. Que inveja.