27 Janeiro 2019      10:54

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Man Of The West – parte 1

Man Of The West (1958), de Anthony Mann

Quem me conhece, ou melhor, as cinco pessoas que me conhecem sabem que raramente dou para o peditório da Golden Age do western, livremente, e a poder esticar, o intervalo de tempo entre 1935 e 1959. Enfim, obras-primas (reconhecidas por uma pequena multitude – no que diz respeito a cinema produzido entre 35 e 59, mesmo poucos são quase todos) não faltam, porém, como dizer, o John Ford era católico e fazia com que não pudéssemos deixar de o notar e o John Wayne…o John Wayne, o singularíssimo Duke Wayne, chamava-se (decoro, por favor!) Marion Morrison, tão deliciosamente aliterativo como qualquer homem vulgar prestes a tornar-se super-herói – quando e que bicho lhe mordeu não sabemos, é história ainda por escrever. E também filmes medíocres que alguns, menos, levados seguramente por muito agradáveis e expressivas memórias de uma juventude que entretanto se perdeu, fazem passar por obras-primas, com o inefável Shane à cabeça. Quanto aos primeiros, o que me afasta não é, em termos objectivos, a competência, mas a atitude, a complacência com o pior dos tempos de então (feitios – no que me diz respeito, pouco dado a não ter opinião, não me agradam sociedades que vivem de olhos fechados). Dos segundos, afasto-me de tudo, por uma questão de saúde mental.

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Não custa a compreender a importância da Fronteira na construção da mitologia fecundadora da América enquanto Estado-Nação e, simultaneamente, Estado-Conceito. Dentro dessa orientação / necessidade, o western foi uma espécie de motor de compensação. O olhar de uma era posterior (o equivalente à luminosidade da hora mágica no instante em que a América se assumia como a primeira superpotência verdadeiramente global na história da humanidade) sobre algo que também assentou em [sejamos simplistas:] pelo menos três pecados capitais: a erradicação das tribos autóctones, a escravatura e o massacre dos colonos que reivindicavam terras prometidas. Pecados que precisavam de ser varridos da memória formadora. Nada de novo, não se constroem impérios a olhar para espelhos, mas sim para iluminações; se expressivas, tanto melhor. Houve, em tempos meticulosamente transviados, um filme que tentou pôr a América a ver-se ao espelho – refiro-me a Heaven’s Gate (1980), de Michael Cimino –, e os resultados foram catastróficos. Não voltou a haver outro. Uma coisa é tolerar um certo cinismo; outra, um abalo profundo nas estruturas. Um The Wild Bunch (1969) ou um The Missouri Breaks (1978) ainda vá que não vá. Ou até um A Man Called Horse (1970). Brincar com coisas sérias, sim, mas sem ultrapassar certos limites… Quanto mais todos os limites, como o Cimino tentou fazer. [Aqui entre nós, por devoção e obrigação: é um dos filmes do século passado.]

Contudo, sem excepção ou excepções não existem regras, como todos sabemos, e também aqui precisamos de uma (digamos que chega a plural). Trata-se de Man Of The West (1958), do tarefeiro, e apesar de tudo prestigiado – talvez pelo sentido prático que sempre demonstrou –, Anthony Mann. Realizador que experimentou com sucesso praticamente todos os géneros, e por isso nunca atingiu o estatuto de autor. Dirigiu uma série de westerns e ficou bastante conhecida uma parceria duradoura com James Stewart (8 filmes ao todo, 5 westerns). Contudo, a dita excepção resultou da única colaboração com outra das maiores vedetas dessa e de todas as épocas, Gary Cooper.  (continua)

 

Imagem de blogs.sapo.pt

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